NA PAZ DO SENHOR (BVIW)
 

E me foi perguntado o que vou fazer com o resta da vida que me resta. Sinceramente, isto é pergunta que se faça! Agora estou aqui inculcada sem ter a  mínima ideia  do que  vou fazer  e olhe que, pelo andar da carruagem, o tempo está ficando cada dia mais curto . Tá certo que já tomei algumas providências, adquiri um plano de saúde para usufruir até o consummatum est, comprei um túmulo, providenciei um seguro para cobrir as despesas com o funeral e fiz um outro  seguro generoso pros filhos. Acredito que agora é só esperar o tempo passar na paz do Senhor, seguindo os conselhos de Cláudia Dornelles, que recomenda não arranjar tarefa a ser cumprida nesse restinho de vida , para tanto não devo acariciar minhas carências / Não devo adular os meus problemas / E nem devo fazer cafuné nas minhas coitadices.
Enquanto isto ,  fico cá curtindo o meu pedaço de mar, que ninguém é de ferro, repetindo Manuel Bandeira... Quando a indesejada das gentes chegar /(Não sei se dura ou caroável), Talvez eu tenha medo. /Talvez sorria, ou diga: /- Alô, iniludível! /O meu dia foi bom, pode a noite descer. /(A noite com os seus sortilégios.) /Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,/ A mesa posta, /Com cada coisa em seu lugar.
 
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 16/01/2019
Reeditado em 16/01/2019
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