Detendo

Já não vê as horas há um bom tempo. Nem tenta adivinhar o caminho percorrido pelo ponteiro, até então. E também não pensa em levantar para ver em qual lado o sol está.

Tudo acontece na bagunçada e fiel rotina excluindo a todo o custo a preocupação com o tempo e seu destino durante o dia. Dia que não sabe se ainda é. Fechou todos as portas e gretas por onde a luz pudesse escapar. Ligou o som e foi depressa para a cama.

Desejava entrar em um estado de contemplação tão profundo a ponto de esquecer os minutos escorrendo sem pena. E tentou. Parecia tão anestesiada no esforço para não sentir o peso real do que estava a sua volta.

Esqueceu do som que tocava baixinho e mergulhou em um silêncio um tanto que perturbador, nele se deleitou, entregue.

Se conformou e tentou justificar que tudo ali era parte de algo maior e que todo mundo descobriria um dia. Tudo parecia estar na mais perfeita ordem.

As plantas, o som, o quarto e ausência da pressa que o tempo exige.

O tempo não deveria nos roubar o estado de contemplação, de interiorização e de autognose.

Mas o contrário do que pensava, ele não parou pra vê-la, ele seguiu e continua sua rotina árdua. Ele cumpre seu papel e o nosso é de respeitá-lo e não ser refém dele.