Ampulheta

Insatisfeito com a hora que chega, reclamando da hora que foi e ansiando pela hora que vem. Porque a felicidade não é o prato de comida sobre a mesa agora. A felicidade não é o estar, ela sempre será o que vem. O que está atrás da porta fechada, do lado de fora, caminhando para o encontro do amanhã.

Ela não cabe nas palavras urgentes. E se amontoa em um punhado de roupas que já não servem mais.

Desejada de ontem para hoje e é mal vista. Chega entregando de bandeja as novas horas e a finita oportunidade do agora. Mas ninguém nota. Todo mundo corre para o dia seguinte, a sexta que vem, o feriado apropriado. Que chega novamente como em toda a semana, e não é desfrutado como discursava. A ânsia pelo próximo nos tira o direito do hoje. E nos empurra de maneira gradativa para o encontro com o fim.

O tempo que escorre e contra quem a gente diz correr é uma ampulheta derramando areia sem parar. E sempre que agora não for hora e que o amanhã parecer ideal, chega-se perto da morte.

A pressa para encontrar a felicidade no depois, mata por hora.