Minha Posse de Arma

Hoje foi o dia. Dia pelo qual adquiri de maneira efetiva e vitalícia o porte legal de armamentos. Após anos de desenvolvimentos de técnicas da fuzilaria, a minha hora chegou.

Após chegar ao estabelecimento, logo me direcionei a sala na qual realizo minhas primeiras atividades do dia. Como de costume, cumprimento aos demais colegas de quartel, faço a conferência dos materiais e, principalmente, presto continência aos superiores de patente. Ao entrar na sala, o arsenal estava todo disposto, preparado e identificado com o nome de todos dos soldados em cima da mesa.

Ao avistar meu nome naquela caixa pequena de madeira, inicialmente, fiquei perplexo. Optei por não abrir, afinal, ainda estava em dúvida, cogitando: será que é meu mesmo? Subitamente, lembrei que apenas eu tinha um dos nomes ali grafados. Naquele instante senti que todo esforço foi valido. Aos poucos, os olhos, automaticamente, foram se enchendo de lagrimas, pois havia caído a ficha.

Tomei coragem, abri o receptáculo. Percebi que estava descarregado. No mesmo instante, entrou um combatente e deixou um pote com munições sobre a mesa. Rapidamente, já carreguei minha arma, haja vista que nenhum fuzil funciona sem munição.

Terminando o carregamento, a sirene tocou. Comecei a descer pelos corredores do quartel general. Sentia-me empoderado, com vigor e disposição. Logo adentrei no primeiro estande e fiz vários disparos certeiros. Acertei na cabeça da ignorância. Deixei a opressão, gravemente, ferida. Atirei no coração da desigualdade social. Metralhei os preconceitos. Depois de haver utilizado muita munição, pensei comigo: acalma-se, é apenas o primeiro dia de batalha. O sinal soou novamente. Tempo esgotado. Encerrava com êxito meu primeiro dia de aula. A minha arma: meu singelo apagador, municiado de giz de todas as cores. Essa é a arma do professor! E uma arma eficiente e letal, destinada a “apagar as dores" da nação, no combate diário da educação brasileira.