MENTES DISTINTAS NUM PAÍS DESIGUAL




"Há vários Brasis..."  
O desfecho desta frase aqui inconclusa já foi proferida e impressa por uma série de sociólogos e analistas políticos brasileiros. Os autores da assertiva, entretanto, não se referem apenas a um país no qual há palpáveis disparidades socioeconômicas. Aludem eles também às questões étnico-sociais, cujos fatores impactam nas diferenças entre as diversas regiões e alguns agrupamentos humanos.
O Brasil, com seu vasto território, possui muitas características semelhantes. No entanto, as diversidades vão além da aparência.
Pelo fato de o povo brasileiro ter se originado primordialmente de três outros povos - brancos, índios e negros - não é justo afirmar que a "raça brasileira", a partir dessa hipótese, possua uma formação genuína entre europeus, indígenas e afros. Esses povos, troncos raciais, sequer possuíam caráter uno em sua constituição, ou seja, eles mesmos de algum modo, resultaram da miscigenação de várias outras etnias.
Vale dizer o seguinte: europeus aqui instalados na época colonial não pertenciam a uma cultura única. Os negros africanos, que para cá foram arrastados, da mesma forma. Os indígenas encontrados aqui por ocasião do descobrimento também eram compostos de vários grupos e povos e, consequentemente, de culturas várias, resultando em tendências socioculturais diversas.
Esses aspectos relevantes, portanto, os quais contribuem para que a nação brasileira deixe de ser uma terra de grupos aparentemente iguais ou muito semelhantes, de tribos com interesses comuns ou pelo menos muito parecidos, têm sua razão de ser.
A consolidação cultural suscitada pelos aspectos primordiais do povo que a formou foi reforçada por lutas e batalhas ao longo de quase toda a História do Brasil. Essas batalhas eram travadas não simplesmente pelo sentimento nativista ou libertário, mas, mais exatamente, reforçada pelas reminiscências de tradições remotas, resguardada pela manutenção da cultura de cada grupo. Essas tradições, entretanto, são vitais para os grupos, no sentido de promover entre os indivíduos um sentimento de autoestima e harmonia social.
É inegável que cada grupo diverso possui desejoos e sentimentos próprios. Essa gama de virtudes é proveniente das mentalidades as quais são peculiares e exclusivas a cada grupo, sendo manifestadas através das tradições seculares. É um signo inato que as culturas humanas carregam desde os primórdios.
Embora o povo brasileiro seja um dos mais miscigenados, ainda há uma colcha de retalhos cultural, regida por uma mentalidade particular que faz o caráter e orienta a formação de diversas culturas. Dentro desse espírito é que ele foi formado.
As imposições perpetradas pelo sistema educativo vigente conduzem a muitos resultados frustrantes.
Nos países mais desenvolvidos o sistema educativo tem observado os atributos étnico-sociais para poder orientar uma educação que respeite e contemple cada grupo, de modo a proporcionar o bem estar e promover o progresso com mais eficácia. Para estabelecer uma educação de qualidade há que respeitar todos os valores adquiridos pelos agrupamentos humanos desde os primórdios. Sem isso deixa de haver a verdadeira coesão que torna uma nação compacta.
Ao longo de décadas mais décadas os governantes brasileiros tem tratado esse tema com verdadeiro descaso, tanto que se torna quase impossível reconhecer qualquer grupo local pela tipicidade étnico-cultural.
Observa-se, outrossim, que há uma séria falta de ética no trato da cultura como objeto do processo educativo. E é aí que se abre uma lacuna enorme dando campo ao doutrinamento, o qual é capaz de ruir as fronteiras do caráter humano. Dessa forma, o sistema abre um perigoso precedente para a coação, impedindo os indivíduos de fertilizar seu conhecimento com ideias políticas, intelectuais e teológicas adquiridas em sua origem cultural.
O sistema educativo que não leva em conta os fatores étnico-culturais está fadado ao fracasso.

 
Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 11/02/2019
Reeditado em 11/02/2019
Código do texto: T6572289
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