LIBERDADE DE ESCOLHA

De tanto ouvir falar por aí nessa tal liberdade de escolha como uma cláusula pétrea da nossa liberdade, fui condicionado a refletir sobre a liberdade de escolha quando se refere a canais de televisão.

Fiz assinatura de tevê a cabo com não sei quantos mil canais digitais e mais duas centenas desse tal HD. Contente, preparei uma feijoada e convidei os amigos e vizinhos para a grande inauguração. Cerveja gelada, tira-gosto na mesa, depois das explicações do técnico da Net sobre o uso do controle remoto, ficamos a postos para a grande novidade tecnológica. Coração acelerado, peguei o controle e comecei a navegar entre os canais. Antes do segundo copo de cerveja, a decepção lançou a sua flecha negra: metade dos canais só falava chinês, coreano, japonês, etc. A metade da outra metade transmitia em alemão, italiano, inglês. O restante se dividia entre a Igreja e os pastores. Corri esperançoso para a tal HD e descobri que era apenas repetição dos canais abertos ou dos outros canais já vasculhados. Os vizinhos e amigos foram embora me dizendo gracinhas.

O tempo passou, passou e eu sem saber o que fazer com o trambolho a cabo. Alguém, vendo a minha agonia, me disse num finzinho de tarde: Troca por aquela outra que tem a Globo News! É massa! Troquei. E descobri que a Globo News só reprisava o canal aberto da Globo. Um expert em tevê a cabo me esnobou: Deixa de ser otário! Bota o Canal Brasil! Botei. Descobri que o Canal Brasil passa a semana com a mesma grade de programação, só troca o horário. Um vizinho, que é solteiro, vendo a minha aflição, me disse: O negócio é investir em sexo. Bota canal de sexo. Tu vai ficar doidão! Botei. Aí descobri que só posso ver os filmes de madrugada. E sem som. Outro vizinho me disse: Pô, cara, o negócio é investir no esporte! Bota mais canais de esporte. Tem cada jogo do cacete! Botei. Uma maravilha! Acabei de assistir ao grande clássico do futebol mundial Afeganistão X Iraque. Amanhã tem a final de críquete. Jogo imperdível.

Ainda bem que me sobrou a liberdade de escolha entre o nada e coisa nenhuma.