Nós, Tupiniquins.

Andamos todos perdidos, em busca da realização.

Crianças imaturas, inocentes e perversas, sonhando os sonhos da eterna felicidade. Onde encontá-la? Infelizmente não sei. Também a busco, todos os dias, como se instintivamente seguisse um roteiro agendado desde o meu nascimento.

Aqui, debaixo da linha do equador, somos povo "mui caliente" e amantes notórios da carne e da indisciplina. Isso nos atribui o estigma de sermos lascivos, mas, vendo por outro ângulo, estamos apenas cumprindo o roteiro de encontrarmos a alma gêmea, ainda que façamos tentativas equivocadas a cada esquina.

Também somos acumuladores. De tanto amor que temos para dar, nutrimos a sociedade com mil e um filhos de ninguém.

Somos, atualmente, cerca de 22 milhões de todos os tipos e formas. Fomos misturados no caldeirão das necessidades e nos tornamos vira-latas soberbos, por não aceitarmos o óbvio. Por não conhecermos a história da formação do universo. Nosso mísero planeta passou pela Pangéia e pelos movimentos migratórios em busca da comida que garantiu nossa subsisténcia e preservação. A ignorância nos tornou cruéis e covardes com nossos semelhantes.

De que me vale o dom da escrita se não o uso para gritar ao mundo que ser culto não nos faz melhores, mais sábios, ou menos ignorantes. As mortes são tantas, que as banalizamos. Marieles, Marias, Drags, crianças... Tanto faz. Pouco importa quem são ou o tom da melanina que os reveste. Ouvimos a notícia comendo pão e registramos um emoji com uma lágrima sentida (ou não). Valorizamos o pet acima do irmão.

Somos mal administradores do tempo a dedicar. Sofremos de preguiça crônica por achar trabalhoso o ato de explicar os "porquês" dos atrasos, dos furos, dos esquecimentos das datas de aniversários, das singelas bodas de casamento, que aquecem os sentimentos e nos tornam fofinhos.

Ainda não deixamos nossos ninhos. Debalde os levamos nas costas, achando que nos protegerão das irresponsabilidades e suas consequências.

Nos falta tino e consciência. Perdemos o foco quando a latinidade pulsa e ferve nas veias, nos transformando em insanos.

Somos ciumentos e brigões por natureza. Fazemos festa para tudo e também lotamos cadeias. Vivemos extremos de luxo e probreza massacrando com impostos a classe mediana acovardada que sustenta os dois.

Nossa passividade frente as injustiças é vergonhosa, mas driblamos facilmente esse inconveniente com o titulo de povo afetuoso e hospitaleiro. Contudo, essa mentira foi desfeita perante o mundo inteiro e amargamos tantos sonhos desfeitos que nem dá mais para contar.

Sabemos tanto. Queremos muito. Somos festeiros e criativos, mas não levamos a cabo nossos sonhos de vida plena e fecunda. Sempre haverá o fogo amigo.

O paraíso é logo ali. Para ser mais precisa, o paraíso é depois da fronteira do México. Invejamos o jardim do vizinho que roubou nosso o cortador de grama e nossos vasos com flores. Desistimos de plantar, de regar. Preferimos que alguém tome nossas dores e nos represente, sem nos questionarmos se tal escolha é inconsequente. Viramos velhas Marocas que se põem a reclamar sem atitude tomar.

Queremos estereótipos cheios de silicone. Imagens belas e frias como o mármore para apreciar sem amar.

Nos dividimos em blocos, agremiações, clubes, legendas, mas não somos unidos. Quem dera, que toda energia em torno de um churrasco com cerveja fosse condensada para lutar em prol da dignidade que espera há 519 anos na prateleira do Monte Pascoal.

Perdoem o generalismo e meu ceticismo, mas a roda da vida nunca foi lúdica e a geração de idosos tende crescer.

Os mais cultos e abastados não querem procriar para um mundo que pouco quer oferecer além de insuflar a pança de uma meia duzia de rufiões que prostituem a classe trabalhadora e vendem a preço de banana pedaços da nossa nação.

Será que feneceremos em um último brado retumbante às margens de um rio de lama?

Recuso-me a declinar perante a fauna das hienas que riem impunes de um povo delirante, acostumado a ser sofrido.

Invoco a almejada lucidez em minhas crónicas, minhas poesias, mais que doridas, compartilhando minha indignação. Tento propagar eco em seres ainda gentis, nesta silenciosa revolução das mentes que anseiam por dias melhores a um povo educado, patriota e mais viril. PQP!

Rose Paz
Enviado por Rose Paz em 17/02/2019
Reeditado em 17/02/2019
Código do texto: T6577090
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