PRECIOSAS MÃOS
 
 
 
Instrumentos intensamente usados e muitas vezes esquecidos, calejados pela vida a fio. Os anos vão se passando, vividos de forma servil. Usadas de muitas formas, são as mãos desde os cabos de enxadas até os afagos proporcionados e também dinheiros contados.
Muito delas está nos escritos que representam confissões; e alguém pode perguntar o que se quis dizer com elas, eu diria que uma missão existe em complexidade a ser cumprida. Olhadas, admiradas, como órgãos de sustentação, de esperança, medo, algemas que prendem aos poemas. Quantas e lindas coisas fazem as mãos! Elas são prendadas, como mãos de artesãos, salvadoras como bisturis nas mãos de médicos, consoladoras em atitudes de voluntariedade e generosas que mitigam as dores dos enfermos. Elas pintam paisagens, manipulam remédios, afagam e consolam os sofredores, escrevem músicas e tocam melodias.
É incrível que as mesmas mãos que salvam também podem matar, esculpir vida no mármore, como cavam e enterram aqueles que já não têm vida.
São lindas, rápidas e sensuais essas mãos que ousam, perseguem seus objetivos como se vidas próprias tivessem. Marginais de mim, de outros, marcas do pecado, da hipocrisia, que quase não reconhecidas, tão notáveis elas são.
Mãos que trabalham firmes, sem reclames, usam os meios adequados para o filho alimentar; mãos que se afligem, escondem o rosto envergonhado por não ter quem as aperte no momento desejado; mãos que acolhe lençóis quando a noite deita no mundo e cansadas recolhem no silêncio mais profundo.
Mãos que escrevem prosa e verso se entrelaçam felizes, acolhem e protegem desejam uma carícia e de repente recuam e um sonho perseguem. Quando contemplo essas mãos é um momento profundo; gestos e emoções a contar, neste portal para o mundo é possível viajar. Elas não mentem, mostram a verdade como expressões, extensões da personalidade e gestos de autenticidade.
No oceano da vida diante das carências repartem o pão distribuindo afetos e carinhos, transformando em ponte para o coração. Têm um jeito especial de tocar, e mudas não precisam falar. Muitas vezes ansiosas, carinhosas, gesticulam sem chorar; oferecem flores, fazem brotar atenção e estendidas dizem: vem cá.
As mãos cultivam amizade na reciprocidade, puro sentimento que sem fingir, transmite num aperto de mão o que vai no coração. Elas acenam, afagam, agridem, pegam em armas, produzem dor, mas também aprimoram tudo que existe, semeiam, fazem colheita e alimentam o mundo e também apontam caminhos, abençoam, agasalham, praticam o amor. Mãos que preparam remédios, fabricam e distribuem drogas,
destroem, mas também curam. Essas mãos são humanas que com amor e solidariedade saciam as necessidades da humanidade. É uma constante construção e unidas juntam-se em oração aproximando os irmãos.
Belo é o encontro de mãos unidas pela delicadeza de sentimentos enxugam lágrimas, misturam-se em emoções num desempenho de eterno carinho num ritmo cadenciado de dois corações. Mãos dadas revelam o singelo gesto de querer bem, como elas estivessem atadas de muito tempo além. Benditas mãos que guardam o calor e a delícia de viajar por todo o corpo feito para amar. Nestes momentos de entrega total elas atendem os desejos e aguçam os sentidos nas fantasias de muitos sonhos. As duas, direita e esquerda lisas como seda, jamais serão esquecidas sua maciez como se fosse uma mágica talvez. Todos os dias os encontros de amigos e familiares, as festas com alforia e cumprimentos dão grande alegria, num aperto de mão com a direita e com a esquerda um tapinha nas costas produzindo afeição. Culturalmente um gesto social de amizade, afinidade e confiança entre as pessoas.
Mãos existem que escrevem, desenham, criam, transbordam em arte embelezando o espírito sofrido e o dom a elas concedido. Há mãos que falam, gesticulam na expressão dos surdos-mudos, cujos sentimentos articulam traduzindo seu conteúdo.
Quantas mãos bondosas que procuram outras num gesto de carinho trazem a brisa perfeita num momento de emoção; elas se entendem no seu tocar em tudo que fazem e na maneira de o amor exteriorizar, construindo templos, escolas, casas, hospitais, alimentando famintos, medicando enfermos, elaborando tratados de Paz, guiando carros, pilotando aviões, varrendo ruas, tocando instrumentos musicais, esculpindo monumentos.  Sua variedade é vastíssima de funções que orgulha o ser humano. Para o mudo a mão é o verbo, para o idoso é segurança, para o pedinte é súplica e para aquele que ama é uma nobreza declarar o valor de sua mão silenciosa que acode ao necessitado sem que seja preciso manifestar.
Ainda temos muito para falar sobre aquelas mãos que apararam a criança no seu nascimento e quem dela cuidou ao levar ao peito. Fizeram-na crescer ensinaram-na a ler e nos dias febris aliviaram suas dores, ofereceram pão, lavaram os pés, secaram suas lágrimas da vida ao anoitecer.
O que dizer daquelas mãos que O tiraram da cruz, cuidaram do seu corpo e sepultaram Jesus! Mãos caridosas, mãos alegres, mãos que trazem vida, mãos como as de Maria, as dos apóstolos, as de São Lucas: médico de homens e de almas!
Mãos que ao amor nos conduz!
Outras mãos não são assim! Levam mensagens malvadas, são mãos ensangüentadas contra a vida, não evangelizam, não cuidam, não amam, dizem alguns: são incapazes e no ar se desfaz.

Mãos ativas, saudáveis, sempre livres a atuar que também escrevem e são responsáveis. Quando foram pequenas também tiveram suas vontades. Cresceram perseverantes nas tarefas domésticas e preparando a lição. Nunca foram mãos de fada, mas vocacionadas felizes honram suas raízes com cuidados especiais. São as mãos das avós que estão sempre preparadas e a Deus levantadas, em gratidão.
Das mãos do poeta saem rabiscos sensíveis e às vezes agressivos, de acordo com seu coração no momento, se explosivo. Suas mãos podem encantar e desencantar, não são mudas, nem perfeitas, mas são conscientes, criam elos e navegam pelas ondas da inspiração. 
Partes importantes do nosso corpo leem quando não se pode enxergar, fabricam delícias para se saborear. Não existe coisa melhor que as mãos de uma mãe ajudando o seu filho a caminhar, estendidas com segurança mesmo entre rosas e espinhos. No traçado da vida abençoam, acenam sorrindo mesmo no triste adeus. Também confortam outras mãos, quando no ministério de interseção rogam e imploram os céus! Lamentáveis são as mãos armadas que ceifam vidas, sem nenhuma compaixão e deixam em desamparo inocentes e pessoas carentes; mãos ponciopilatadas que se lavam para  eximirem-se de culpas.
Muitas mãos hoje estão enrijecidas pelo tempo e desejariam falar, se pudesse dizer do carinho sentido ao amparar o filho querido, todo desvelo a ele dedicado misturado com o medo de fazê-lo sofrer. Se pudesse parariam o tempo para tornar apreciar lindos momentos... Mas na verdade ficam silenciosas, perdem a tonicidade e já não têm a mesma mobilidade e com tristeza afastam lembranças de felicidade.
Mãos de todas as cores, vermelhas, amarelas, negras ou de brancura desiguais na formosura têm em suas veias o sangue unicolor de originalidade divina que preconisa a igualdade. Enrugadas do labor, moendo labutando na terra, ao fogo e no mar para o alimento nos dar. Ainda existem as que sangram na guerra para trazer a todos o sossego e aquelas mais serenas nasceram para elevar nossas almas, nossa mente, a Deus ajudam na caminhada, oferecem flores carregadas de amores.
Como os olhos são as janelas da alma, e falam expressões do pensamento.
As mãos são duas paralelas que funcionam como complemento da fala e da visão. Entrelaçam-se com cuidado numa mútua proteção e confiança, transmitem passo a passo esperança para caminhar com segurança. Mão sobre mãos é o cumprimento acadêmico que exprime firmeza entre irmãos.
 
 
                                         


 
Maria Loussa
Enviado por Maria Loussa em 24/03/2019
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