DA VELHA JANELA

Da velha janela eu contemplava

Um mundo, vivo, real.

Parecia-me tudo um sonho

Mas não era sonho;

E as musas que ali havia

Comigo segredavam noite e dia.

Por sobre nuvens eu andava

Leve como uma pluma;

Sim, eu podia voar e não sabia,

Eu era noite, eu era dia,

Era chão e,me comovia

Com a leveza duma libélula

Quando sobre a água do rio repousava,

E não submergia.

Mendigos por ali não havia

Perto ou longe da velha igreja,

Eu, baixinho, então dizia:

Louvado seja Nosso Senhor,

Que mata a fome ao agricultor

Que rega a terra com seu suor.

Para não dizer que mendigos não havia

Havia o ti Zé “malagueta” do pé torto

Com seu saco roto cheio de nada,

Sobre o qual a cabeça repousava

À sesta,

Sob a velha romãzeira,

Da porta da sala de meu bom avô Lourenço.

Agora, já de estômago a repimpar

De sopa de broa e do bom vinho

Que meu avô lhe ofertava,

Até sorria;

E as velhas mágoas que ele carregava

Eram coisas de outro dia.

Graças às artimanhas do maroto Baco

Que até a um velho de saco roto

E pé torto,

Ainda que por fugaz instante,

Trás um pouco de felicidade

A quem a vida negou esse direito.

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 04/04/2019
Reeditado em 04/04/2020
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