Educação domiciliar

Essa novidade, bem velha, de Educação Domiciliar, me pôs a pensar, relembrar, refletir...

Primeiro me vi lá no início da década de 60, com sete aninhos e feliz da vida com meu guarda-pó branco engomadinho e laço azul indo aprender a escrever. Tudo novo, caderno de caligrafia, movimentos circulares e ondulantes exercitando a coordenação motora. Minha mãe era analfabeta e os irmãos mais velhos trabalhavam, para ajudar na renda familiar, então a gente aprendia era na escola mesmo . Porém, mesmo sendo analfabeta, minha mãe sabia cobrar as responsabilidades que tinha que ter com a escola. Era o que ela tinha de melhor para ensinar – estudar para “ser alguém na vida”. Pra mim, deu certo. Amei todas as etapas do período escolar.

Depois, com três filhos, passei pela experiência de os dois das pontas não se adaptaram a escola maternal, enquanto a do meio, ia toda faceira com o tio da kombi, abanando pra avó. Na escola grande, os três seguiram seus estudos. Tentei ser uma mãe presente na vida estudantil dos meus filhos, tanto nas atividades extra classe, quanto no incentivo aos estudos. Além de usar o argumento de formação profissional, dizia a eles que aproveitassem o período escolar, pois era a fase das descobertas do mundo em que vivemos e a mais divertida da nossa vida.

Lembro que quando vinham os “ranços” com os professores ou com a escola e até com a faculdade, sempre partíamos para o diálogo argumentativo. Dizia que eles teriam que me convencer que tinha algo errado no ambiente escolar, para que eu, como mãe, fosse até a escola tirar satisfações. Não lembro de nenhum caso grave. Fico feliz quando vejo os três conversando sobre o tempo de escola ou reencontrando com os colegas de “classe”. Então, pra eles o ensino formal também deu certo, também foi feliz.

Com os filhos já crescidos, retomei os estudos e optei por cursar Pedagogia, muito pela minha paixão pela área da educação, mas também pelo curso estar relacionado com o meu trabalho no treinamento e desenvolvimento de pessoal.

No conteúdo de História da Educação, a nova proposta aparece desde os primórdios. Interessante é que não lembro de ter lido nada que referisse papai ou mamãe, ensinando, mas ensinando mesmo seus filhos. Sentando com eles horas e horas, para lhes alfabetizar ou ensinar outros conteúdos. Essas tarefas cabiam aos mestres. Pessoas de fora vindo ensinar em casa.

Não sei se os pais se preocupavam se os mestres sabiam bem o conteúdo que iriam ensinar a seus filhos. Acho que eles também não tinham certeza se o mestre detinha conhecimento de Didática, Letramento, Métodos de ensino, Psicologia da Educação, Psicopedagogia, Planejamento Educacional e de Ensino, além de tantos outros conteúdos que o Pedagogo precisa para estar numa escola.

Diz a proposta que o governo vai realizar provas anuais com as crianças, seguindo as cartilhas que serão disponibilizadas aos pais, mas me pergunto se alguém vai acompanhar tantas outras questões que são vistas na escola, como as relacionadas com as dificuldades de aprendizagem.

Penso que esse novo-velho jeito de ensinar vai atingir determinado nível da nossa sociedade isso me assusta um pouco. Lembrei do filme O doador de memórias, Phillip Noyce-2014, que trata, basicamente, de uma comunidade que vive num mundo perfeito, onde não há guerras, doenças, desavenças, tristezas... mas também não há emoção. É um mundo de uma única cor e isso é uma distopia ou antiutopia!

Mas...

Tânia França
Enviado por Tânia França em 16/04/2019
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