Diversão pra mais de metro

Noticiário pela manhã. - No Rio de Janeiro o congestionamento de veículos na estrada é de vinte kilômetros em direção à Região dos Lagos - É muita vontade de passar um feriado entalado na estrada e dentro do carro, como sardinha, num sol escaldante, filhos barulhentos, buzinas soando, como se buzinar fosse um abracadabra para os carros andarem. E muitos ainda tem a sorte de terem ao lado o parceiro ou parceira que, aboletado(a) no comando do rádio, insiste em Bruno e Marrone em vez de Toquinho e Vinicius. E o tampo vai passando, o suor vai empapando, as crianças vão irritando e os olhos vão girando, esquerda, direita, à frente, atrás, vigilantes quanto a um possível arrastão, assalto ou para a passagem do salvador vendedor de água mineral geladinha, engarrafada agorinha na bica da comunidade que margeia a estrada. E cara. Tensão é geral. Com o devido exagero, quase uma cena de Mad Max. Expectativa de chegada a Cabo Frio? Boa pergunta. Por baixo, se tudo correr bem no congestionamento, chegada lá pelas vinte horas, talvez, quem sabe. Enfim as criaturas chegam ao destino, esgotadas física e mentalmente. Ninguém pensa em ir para a noitada, cair na gandaia. O grande programa é um banho, ligar o ar condicionado e desmilinguir-se numa cama até o meio dia de amanhã. Meu bestunto deve estar avariado. Um dia inteirinho e mais um pouco, enfurnado num veículo, carro ou ônibus - ônibus pelo menos é mais animado - perdendo a calma, perdendo um bom filme ou um volei na praia que estava a alguns passos de distância, perdendo uma conversa animada com amigos num boteco qualquer das redondezas, sem crianças com mãos melequentas de sanduiches e doces sujando o estofado do carro recém lavado. Dos tres dias de feriado dois são perdidos entre a viagem e a recuperação emocional e física. Mas, tudo é festa e todos recusam-se a querer pensar no dia da volta. Melhor pensar que tudo isso sai mais barato que um psicólogo,. numa terapia familiar. Enquanto vou tentando entender essa ginástica, entre um chopp e um pastel de camarão, fico, invejoso, a observar as caras de felicidade dos turistas zumbizando pela praia.