Paráfrase da Cigarra e a formiga

Era uma vez uma Cigarra dentuça, rosada, toda bordada na etiqueta.

Adorava cantar para o seu público seleto, de bajuladores.

Certo dia, a cigarra descobriu que existia ao seu redor um mundo de formigas.

Elas, as formigas, não davam a mínima para o canto da cigarra. Ao contrário, as formigas se reunião, trabalhavam, juntavam o fruto do seu trabalho para dias longos e frios.

Não perdiam tempo!

Sempre organizadas, viviam para o trabalho e para as limitações da vida operária.

Inconformada por não encantar as formigas, a cigarra passou a criar estratégias com a finalidade de desorganizar a organização das formigas.

Fez que fez que fez...

Gastou seu canto até que conseguiu seduzir um grupo de formigas.

Prometeu flores, jardins recheados de ervas, um terreno imenso para que elas perfurassem, construíssem abrigos para proteger seus filhos, enfim, até descanso no período da estiagem.

Não sabiam que estavam sendo ludibriadas pelo canto da cigarra.

Em poucos instantes, as formigas já não mais se entendiam. As opiniões eram divergentes, algumas formigas trabalhavam mais, outras menos...

A maior parte dos bens produzidos pelas formigas ia para a cigarra e seus aliados.

Aos poucos, as formigas foram percebendo que não tinham mais os mesmos direitos de antes.

Tudo agora faltava: não tinham mais direito ao descanso, não eram mais recompensadas justamente, estavam adoecendo sem direito a tratamento de saúde de qualidade, enquanto a cigarra serelepava de um lado ao extremo, usufruindo do fruto do trabalho das formigas.

As formigas acenderam uma luz dentro de si: a partir daquele momento iriam aprender a dizer Não!

Resolveram usar o seu ferrão para alertar a cigarra mandona!

Pararam a produção, disseram: Não! Não!

Em uma única voz passaram a dizer:

Pisa ligeiro, pisa ligeiro

Quem não pode com a formiga

Não assanha o formigueiro!

A cigarra não gostou!

Achou que as formigas estavam sendo ingratas com ela.

Achou que apenas cantando mais forte as formigas iriam sentir medo.

Mas aconteceu o contrário. Quanto mais alto cantava a cigarra, mais seu canto desafinava, irritava as formigas, porque o canto era falso, mentiroso, sem noção.

As formigas disseram: Não!

Foram às ruas, organizaram-se, pararam de produzir, mas a cigarra não as quis ouvir, calou o seu canto, fez careta, iniciou um pranto.

E as formigas disseram: Não! Não!

A cigarra perdeu as estribeiras, ameaçou cortar o ponto, reuniu o seu conselho de lesmas e moscas, foi autoritária, esbravejou, de nada adiantou!

As formigas disseram: Não! Não!

E foram cortando a folha do autoritarismo aos poucos. Cresceram, criaram corpo e foram à luta.

As formigas não aceitaram o desrespeito, a perda de direito, a ingratidão...

Continuaram dizendo: Não! Não!

Até que a cigarra rosada, dentuça, rouca e impregnada de rancor possa abrir do olho e reconhecer o erro.

O conselho de lesmas e moscas? Ninguém ouve mais um piu...

Enquanto as formigas, as formigas seguem na luta, somando forças e gritando por aí:

Pisa ligeiro, pisa ligeiro...

Moral da história: Pode ser cigarra rosada, verde ou arenada, quando as formigas se unem, seu ferrão é imbatível!

Marcus Vinicius