O mundo passa por um processo de transformação constante e desvituado que intimida as pessoas, sequestra valores e princípios e planta (na mente sedenta de vaidade e egoísmo) a noção de felicidade por meio da ambição exacerbada. E este sentimento tem tornado as relações superficiais, frias, calculistas e, consequentemente, carentes de sensibilidade. Olhar para o outro com empatia e compaixão é exceção, e a indiferença tem se tornado uma visita constante.
Bertolt do Brecht já traduzia com maestria, em seu poema intitulado INDIFERENÇA, o que se escondia nesta palavra:

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso,
também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.

A compreensão que temos desta "nova ordem mundial", onde impera o ódio na busca incessante de espaço para a propagação de um Deus, pintado cada vez mais distante da realidade;
onde impera a xenofobia qualificada por resquícios de ódio e preconceito;
onde impera a ausência total de tolerância com as escolhas alheias, sob o apelido de "homofobia (sem qualificação legislativa)";
onde as potências desenvolvidas massacram, matam, usando arsenais perigosíssimos, senão a própria fala, para tomar espaço e alimentar o ódio;
onde o dinheiro virou objetivo e qualquer ameaça entre a captação e o interessado, inclusive ameaça humana, é descartada como se fosse um boneco de lata, não como o do conto de fadas da Alice no país das Maravilhas;
onde a gentileza é condicionada, senão interesseira para manter relações profissionais, pessoais, estruturais;
onde o poder é a máquina reveladora de imagens jamais imagináveis e é medalha de ouro de esportistas nada convencionais;
onde a fraternidade é seletiva (vou ser empática apenas com os problemas dos países em desenvolvimento) e tão cobrada como se não fosse algo natural, com base sentimental, singular, humana;
onde cada um pensa no seu espaço, no seu lugar, no seu emprego, na sua rua, no seu dinheiro, na sua vida;
onde falar de amor é clichê, senão motivo de chacota, já que em tempos modernos não cabe sentir.
RACIONALIDADE é palavra de ordem (mas é tão irracional que parece desumano) tão equivocada que deixamos de "ser pessoas com nomes e sobrenomes para ter cargos e "status". Eliminamos gradativamente o bom senso, o senso de justiça, o senso de ridículo... Apagamos com corretivo a nossa essência e vamos plantando ódio e disseminando falta de amor, como se fossem sementes de árvores frutíferas. E no final, abatidos pelos reflexos de nossos próprios atos ou recolhendo os cacos da destruição que praticamos (ativa ou passivamente, nada está posto colocado sem as nossas mãos) de algum modo, ficamos procurando culpados. Somos ocupados ou culpados? É, indiferença também é descaso, é falta de atenção, falta de cuidado, é desleixo. A indiferença tem dois lados. Num deles, transita imperiosa a hipocrisia, noutro a asfixia. E ainda vêm me perguntar o porquê de tanto ódio no mundo? Sinceramente, não sei (traduzindo Bertout). Mas ousaria uma teoria: Esqueceram de cultivar a gentileza. De podar, regar, arrancar as folhas mortas e replantar... E então a indiferença, esperta como é, consagrou-se... E ascendeu. Um brinde à INDIFERENÇA frente ao Rio Doce, às torres gêmeas, à imigração... À vida, infelizmente!
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 20/04/2019
Código do texto: T6628522
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.