Violência travestida em doces beijos de perdão

Tomávamos vinho doce no primeiro encontro enquanto ele me contava histórias incrivelmente engraçadas. Inevitavelmente me apaixonei, afinal, não é todo dia que encontramos um homem que abre a porta do carro, escreve cartas e até deixa de sair com os amigos para ficar com a gente, demonstrando tudo que sente, fazendo-nos sentir diferente de todas as outras.

Ele já tinha namorado mulheres tão loucas que jamais o compreenderam como eu e isso me fazia digna de alguém como ele. Ele era uma verdadeira conquista pra quem até então se achava tão frágil e ingênua, mas depois egoísta.

Ele me tratava tão bem, me incentivava a desabafar, contar tudo que eu fazia e sentia pra ele. Elogiava-me tanto que quando tivemos nossas primeiras brigas eu tinha lembranças boas suficientes pra apagar as ruins. Mas, aquele vinho não parecia mais tão doce.

Eu o fiz gritar tantas vezes, mas, qualquer um perderia a paciência, pois eu tava agindo feito criança.

Ele foi compreensivo quando me irritei e agora eu tava sendo tão cruel.

Ele me contava tudo que fazia e eu me esquecia de avisar quando saia. De repente, parei de acusá-lo, afinal eu não agia como devia.

Ele aumentou a voz naquela noite de afronta, mas, eu o deixei nervoso. Então não conta.

Ele era confuso, mas, nunca conversamos sobre abuso.

Ele falou palavrões e xingamentos, mas, se arrependeu, ele não queria chegar nesse ponto, mas eu... Se eu não tivesse tentado imitar outras mulheres usando roupas chamativas, ele não precisaria me bater. Afinal, é um risco que se corre usando roupas assim na rua, ele só queria me alertar.

Ele dizia que eu merecia alguém melhor que ele, por isso iria se afastar, mas nunca foi embora. Depois dizia que deveria ter ido mesmo, pois pra ser sincero fazia um favor de continuar me ajudando a ser melhor a cada dia, apesar de eu ser tão ignorante, estranha e desarrumada. O vinho amargo era meu próprio sangue, mas não da nada.

Ele oscilava entre engraçado, mentiroso, arrependido, violento, santo de má intenção. Quanto a mim só sobrava uma função: desesperada. Afinal, eu tava errada mesmo sendo assediada.

Na rua ele ao meu lado, eu de bico calado.

Tirava-me sorrisos, hoje me tira gritos.

Enquanto jura proteção, ameaça me matar com a própria mão.

Uma gota de sangue em cada beijo, de repente eu vejo que aquele homem tão perfeito e bom era na verdade só mais um entre tantos psicopatas do coração. Que chegam assim criando raízes sob a fragilidade feminina, nos fazendo refém da insegurança e apagando qualquer possibilidade de esperança. Por isso que digo, fuja de qualquer tipo de relacionamento abusivo.

CarolAmantino
Enviado por CarolAmantino em 15/05/2019
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