DANDO UM ROLÊ

Sexta feira, dia internacional da zoeira, lá estava eu de bobeira dando um rolê pelas quebradas da Paulista. Quadriculei pelas ruas paulistanas que não estavam mais em meu mapa mental há muito tempo. Me senti em Marte. Em tudo que era canto, tudo igualmente diferente. Pegação total e galera multifacetada circulando em revoada de 500 em calçadas limitadas a 10... apertados.

Num bistrô, ao estilo dos encontrados em calçadas francesas, eu pude ver um turbilhão de jovens interagindo como abelhas em colmeias.

Das portas de bares improvisados saiam uns e entravam outros, freneticamente. Garrafas e copos suados brilhavam gelados suas brejas nas mãos de polvos incorporados em humanos, e desciam por bocas negras, brancas e amarelas à toda velocidade. Os afins, não poucos, combinavam-se em porte, espécie, gênero, cor, idade e tendência.

A fauna animada flutuava na onda da maresia. Até onde se podia ver, era macaco no galho com capivara, tatu-bola embolado com zebra, jaguatirica cambaleante cruzando com capivaras e micos leões dourados, e tudo numa mutação rápida ao estilo do camaleão.

Era a night da city florescendo sem cessar. Foi quando decidi fugir daquele pandemônio esfumaçado. Segui então para o Metrô, buscando um ponto menos agitado a duas estações dali. Na plataforma, o corre-corre de muitos sob a sinfonia de ruídos dos trens da linha verde indo e vindo, contrastando com as linhas amarelas no chão, invariavelmente negligenciadas por incautos de plantão.

Nos vagões, como filmes de terror, caras tipo Jason ou pior. O elenco todo lá, completo. Da comédia ao terror, do mistério à ficção, vi de A a Z... ETs zoiúdos, bruxas, tiozinho nerd, gatinha gótica, gordinhas tatuadas com minissaias pink e cabelos azuis. Uau! Se fosse escola de samba ou bloco de carnaval, o cenário estaria completo.

Emergi na Brigadeiro, mais para o centro. Caminhei por calçadas esburacadas e pude ver um velho conhecido, o tom de cinza típico de São Paulo não menos intenso mas bem temperado, ao gosto do freguês mais motivado. Uma São Paulo mais antiga, inspirada na Belle Époque de Picasso, Matisse e Monet. Arquitetura de tempos remotos, quando o moço de bons modos babava de olhão grudado nas “canelas nuas” da mocinha que escalava cada um dos degraus do bonde da Rua Direita.

Hoje, cairia da bunda se visse o look das baladeiras "salientes" em suas microssaias no mezanino das festas, aos beijos de amígdalas (como destacou Luís Fernando Veríssimo numa de suas crônicas), que deixaria Nelson Rodrigues incandescente.

Por fim, até que foi legal minha ciranda pela Sampa que há muito não via; costumes, padrões... em boa parte repaginados. Vale, todavia um destaque: o velho bom senso deve compor esse mosaico urbano para permitir momentos bem legais compostos de sons, cores e sabores.

O clima, fica a critério de cada um de nós. Basta querer. Eu estava só, mas acompanhado vira melhor, dependendo da temperatura do feromônio em cada um dos momentos.