Elas estão morrendo!

     1. Saí cedo de casa. Muita chuva. Alagamentos? Os conhecidos pelos soteropolitanos. Meu Sandero atravessou algumas poças d'água sem maiores dificuldades.
     Enfrentei pequenos engarrafamentos, logo contornados, sem buzinaços. Meu destino: o Shopping mais próximo de minha casa. A ele cheguei são e salvo. 
     
2. Dado o horário, abri as portas do Shopping.      Aliás, é o que faço sempre. Chegando cedo, se tem mais espaço para circular e espiar, demoradamente, as vitrinas. 
     Verificar, devagarinho, os preços, para, na hora da compra, melhor dialogar com o vendedor, muito bem preparado para dizer o que é melhor pro freguês, o que nem sempre é verdadeiro.
     
3. Antes de fazer qualquer coisa, resolvi tomar um cafezinho. Nem precisava; ainda sentia o gosto do suculento café de casa, com tapioca e queijo de coalho, quebrando o jejum. Mania de tomar café no Shopping. Pelo menorzinho, paguei uma exorbitância: R$6,00, porque com leite. 
     
4. Deixei a cafeteria prometendo nunca mais voltar, apesar do sorriso moreno e meio encabulado da garçonete. Parecia me pedir desculpas pelo preço cobrado pela xicrinha da preciosa rubiácea. 
     Quando eu fumava, bebia qualquer café. Longe do tabaco há várias décadas, só gosto de café da melhor qualidade. 
     
5. Estou conversando demais. 
     Abri o meu Notebook com a intensão de falar sobre as livrarias dos Shoppings. Oh! elas estão morrendo!  São as livrarias que me levam aos Shoppings: em Salvador, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Fortaleza e até nas cidades do interior, como fiz, recentemente, em Campina Grande. 

     6. Na Rainha da Borborema, estive na livraria do seu melhor Shopping procurando as obras completas do saudoso poeta paraibano Ronaldo Cunha Lima. Não as encontrei. Logo o Ronaldo, estrela de primeira grandeza entre os vates da Paraíba de Augusto dos Anjos e de José Américo de Almeida. 
     7. É do Ronaldo esta imortal quadrinha.      Decorei, e passo pros senhores: "Quando eu for eternidade,/ onde só Deus me alcança,/ eu não quero ser saudade./ Já me basta ser lembrança". Maravilha! Todos conhecemos o seu belo poema "Habeas-pinho", né mesmo?
     8. Eu disse que as livrarias dos Shoppings estão morrendo e não estou mentindo. Estão.      Hoje, estive em uma delas procurando vários livros - lançamentos -, e não encontrei um sequer.      Nota-se o desânimo que tomou conta da maioria dos seus vendedores. É o caso da Jú, a menina que me vende livros . Estive com ela. 
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. Com o desaparecimento das livrarias, todas quebradas, devo deixar de ir, com a costumeira frequência, aos Shoppings; frequência que teria provocado alguma suspeita...
     Pois é, dia desses, uma pessoa de minha casa, muito importante, perguntou-me se eu arranjara uma "namorada" no Shopping que mais visito.      Desfiz a suspeita afirmando que tinha as livrarias como "namoradas" ... E a confiança voltou a reinar...
     
10. E agora? Sem novos livros para ler, como será atravessar as madrugadas de infames insônias que, vez em quando, me inquietam? Ruminando antigas saudades? Na madrugada sem sono, nada substitui uma boa leitura.
     O romancista Josué Montello dizia que "Igual ao prazer de comprar livros durante o dia, conheço apenas este: o de lê-los pela madrugada".
     Só recorrendo à Internet; mas não sei mexer com isso.    
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 23/05/2019
Reeditado em 25/05/2019
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