O que sei de mim

A cabeça anda completamente embotada. Interessante é que quando estou sentado na varanda, vem idéias e pensamentos e desejos e realizo viagens fantásticas pelo imaginário de muitas fantasias. Interessante também, é que quando sento pra descrever estas fantasias, estes sonhos, enfim, estes desejos e vontades, as coisas travam. É como se eu aplicasse uma auto censura, um mêdo de ser ou estar sendo ridículo ou me expondo. Vou descobrir o por quê disso, porque quando estou sentado, olhando para o nada, a rapidez e fluidez dos pensamentos são incrivelmente claras e precisas, inclusive nos detalhes. Naquele momento, estou realizando uma vontade, um sonho, um desejo.

Eu nasci numa época de transformações, num momento de mudanças do mundo pós guerra mundial, época de inventos e descobertas de máquinas e métodos que eliminariam mais rápido as pessoas. Algumas coisas, muitas coisas foram direcionadas para o conforto e o bem estar das pessoas.

Nem sei porque estou escrevendo isso. Mas deve ser pra desabafar. A gente sempre carrega os sapos engolidos, eles não são digeridos. Depois de engolidos passam a fazer parte de nossa existência. O máximo que a gente consegue é isolá-los num cantinho qualquer de nosso arquivo. E de vez em quando, de repente, eles pulam no nosso estômago ativando a lembrança do seu significado. Assim como nossos segredos e desconfianças.

Sempre fui um romântico, mais por ter aprendido muito sozinho, do que pelo aprendizado obrigatório de pai, mãe e escola. Claro que os modelos foram importantes como referência, mas o norte da vida ninguém dá - a gente aprende e cresce e liberta na marra, ou se torna apenas mais um. Ser romântico é acreditar na perfeição dos atos e da sequência da vida. Todos se preocupam uns com os outros. Todos são honestos. Todos respeitam os mandamentos e a evolução natural - afinal somos da natureza e não o contrário.

Amarga ilusão. Paguei e pago caro por isso, até hoje.

Não consigo mudar.

Diagnóstico: se me entregar a este padrão terreno de oportunismo e corrupção de todo tipo de mercenários, me sentirei covarde - mas terei posição e dinheiro. Se não me entregar, serei covarde também ou um herói isolado e desprezado, rico em virtudes.

E sendo um romântico, não me permito largar tudo que conquistei a duras penas, resumidos em família e uma casa, e sair por este mundo afora procurando meu lugar. Claro que tenho muita vontade de fazer isso, mas não me permito, ainda, sem ter certeza de minhas certezas. Mas pelo menos uma coisa muito importante eu já consegui, nesta minha conturbada fase - eu já sei o que eu não quero mais fazer, não quero mais suportar, não quero mais engolir, não quero mais me forçar a agradar para não magoar.

Com, ainda, algumas raras e necessárias exceções.

Mas, voltando aos planos - o que é mesmo que eu quero fazer da minha vida a partir de agora?

Ainda não sei. Ainda estou procurando. Ainda estou sonhando.

Ainda estou esperando uma esperança. Ainda estou vivo, ainda ...