PREPARARMO-NOS PARA MORRER?

Imagino que quase ninguém esteja preparado para morrer. No entanto, é certo que, em algum dia, se o fato não se der repentinamente, nós, pobres mortais, vamos pressentir ou tomar conhecimento de que a morte baterá à nossa porta.

Todas as vezes que vou ao médico e ele me solicita um exame qualquer, fico preocupado já pensando que poderá aparecer alguma doença ou sinal de que haja algo de errado em meu organismo. Sofro antecipadamente e já me preocupo até que o resultado do exame ou dos exames chegue às minhas mãos.

Tenho o costume, não o aconselho a ninguém, de abrir o envelope contendo o resultado do exame, antes de passá-lo ao médico e já vou eu, ansioso, pesquisar, perguntando ao famoso “doutor Google” o que significa isso ou aquilo.

Próximo aos setenta anos de idade, faltando pouco mais de dois meses para completar, comecei a pensar e buscar uma forma mais suave de encarar o que deverá acontecer, em breve, daqui a 10 anos, mais ou menos: a letal partida para o outro lado da vida, para não dizer o horroroso verbo MORRER ou a triste palavra MORTE.

Já que não há como fugir, estou buscando, sei que não está sendo fácil, amenizar e aceitar o que deve chegar, com certeza, um dia. A dúvida do que está do outro lado é o que mais me assusta. Mas tenho que pensar que não somente eu irei embora, como gerações e mais gerações passadas já foram, nos deixaram e não há como fugir disso. Meus avós já partiram, meus pais, muitos tios, tias, pessoas muito próximas a mim, como amigos, companheiros, vizinhos etc.

Quero me acalmar. Primeiramente faço um pedido ao meu Criador que, se possível, me leve embora, de repente, sem que tenha passar por um constrangimento, ou seja, uma noticia: como ”Você não vai durar muito mais.” “Sua doença é muito grave.” Nem pensar em ficar numa cama, sem poder andar, usando fralda, dependendo de outras pessoas para sobreviver. Ai, meu Deus, só de pensar nisso já fico desorientado! Em segundo lugar quero, caso isso se confirme, que eu receba a notícia com naturalidade, sem perder o sono, o apetite e ser dominado por uma profunda tristeza.

Cabe um registro aqui. Um amigo me contou que o pai de sua namorada recebera a notícia de que estava com câncer e a que doença o levaria em breve. Disse-me, também, que o pai da moça perdera o apetite, o sono, a alegria de viver. No entanto, certo dia, mesmo enfermo, saiu para uma pescaria. Sentado à beira do rio, eis que uma folha seca caíra levemente sobre as águas pacatas do rio. Diante do fato, veio-lhe uma reflexão: “Uma folha seca não cai simplesmente no chão ou na água. Ela já completou seu ciclo. Folhas novas vão nascendo e as árvores vão florescendo, dia a dia, produzindo suas flores e frutos, seguindo sua trajetória." Pensou então: “Não devo me entristecer. Assim como essa folha, já seca, caíra, sobre o leito do rio, também eu já terei cumprido minha missão.” Dessa forma, com resignação, partira serenamente para o outro lado da vida.

Pensar que devo apegar-me a Deus e ter fé de que do outro lado vai ser bom. Acreditar que vou me encontrar com Ele e morar em um lugar onde não há sofrimento, dores, preocupações etc.etc....

Pesquisando sobre o tema, encontrei uma sugestão de que, para se preparar para a morte, o melhor remédio é viver uma vida mais digna. Este foi o resultado de um estudo conduzido por uma psicóloga, Gabriela Machado Gilberti, do Instituto de Psicologia (IP), com idosos de mais de 80 anos. Nessa pesquisa está a revelação de que ignorar a morte ou tratá-la como tabu traz sofrimento durante o processo de envelhecimento.

No decorrer deste texto, quando tentava buscar um caminho menos doloroso para enfrentar a morte, continuando minha pesquisa, fui surpreendido como informações valiosas. Diz a psicóloga que “É importante que se naturalize a ideia de se preparar para a morte, o que faz com que as pessoas vivam sua existência da melhor forma possível. A morte convoca para o tempo do viver”.

Continuando, achei muito importante destacar, a seguir, uma pergunta que foi dirigida à profissional, e a resposta dada por ela:

Pergunta: “Pensar sobre o fim é ter controle sobre a própria vida?”

Resposta: “O fato de que a existência tem um fim viabiliza a reflexão sobre qual vida é digna de ser vivida. Nesse sentido, pensar sobre a finitude possibilita a apropriação da vida, bem como a diversificação dos significados da morte, os quais não precisam necessariamente ter conotações negativas. O desenvolvimento de recursos de enfrentamento, quando a morte se faz presente, ajuda no acolhimento e assistência a favor de quem deseja elaborar essa questão existencial.”.

Embora o tema não seja um dos muito atraentes, penso que a conclusão a que chegou a psicóloga não resolveu, mas ajudou muito a suavizar o meu coração para algo em que sempre estou pensando, querendo ou não fugir dele.

Parte do texto foi baseada em matéria encontrada em: https://www.gazetadopovo.com.br/viver-bem/comportamento/se-preparar-para-a-morte-e-melhor-diz-pesquisadora/

20.06.2019

LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA
Enviado por LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA em 20/06/2019
Reeditado em 02/07/2021
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