ESTAS COISAS DE OUTONO


(Diário de minhas andanças)

Última quinta feira de março descortinando-se infinitamente azul.
[Sugere-me uma convenção de hortências]
Quinta feira santa.
Na rua deserta,  vou pisando o sol das 15 horas.
Sou , neste momento , nada além de um solitário caminhante bebendo a poção mágica da tarde anilada.
Na placidez infinita , reina um certo marasmo grifando em cetim cantigas de galos.
Dispersos pelas cercanias eles ,os galos , rasgam nos bicos os quintais de minha meninice.
De repente revisto-me do “piá” de calças curtas trepado em cerca de ripas.
Um gosto de “pão de mãe” , invade-me o paladar.
[ É o café das três ]
Canecas espalhadas sobre a mesa , sorrisos , as mãos enrugadas de vovó , doce de pera cheirando à brotas de folhas de figueira...
[ Cruzam borboletas vadias no capinzal de meus devaneios e floradas longínquas dizem-me de segredos de macieiras ]
Um breve instante de retorno à um tempo já desbotado pela distância.
[ Ah !...Estes saudosismos a me perseguir ]
E a tarde orna-se por inteiro numa safira gigante.
Meus passos singram a estrada de chão batido enquanto os galos prosseguem dilacerando no peito as demarcações de seus territórios.
Feito menino caçador de borboletas , fisgo nos olhos cada milímetro da paisagem que me cerca.
De repente , na curva do caminho , uma casa :
Fechada , serena , amarela...

[ Evoca-me uma borboleta. Daquelas !...Profundamente amarelas pousadas nas papoulas do jardim de vó Maria ]
Era eu, então , um malvado menino caçador de borboletas.
A janela, na cumeeira , sugere-me um olhar melancólico rastelando a tarde safirada.
Silêncio de varanda , bem-te-vi na laranjeira... Tudo ! absolutamente , conspirando a fazer-me perceber que:
“Nestes ares de abandono , andam coisas de outono”
Sigo em frente. O som abafado de um apito à distância, delata um trem a caminho da estação.
Tudo tão bucólico nesta minha bucólica aldeia da existência.



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