Nasce um texto...

Quando se escreve um texto, seja ele longo ou curto, romance ou conto, uma crônica ou um poema, é porque algo se tem a dizer. Há a necessidade de se exprimir, de repassar suas idéias e sentimentos seja como homem, seja como escritor, ou ainda ambos, pois um não vive e se completa sem o outro. Quando brota da mente do escritor, o texto vem simplesmente pela teimosa necessidade "físico-psicológica" de se expressar, de se deixar dizer, de chocar e polemizar. Talvez pelo fato de não ter nada mais importante, para aquele que escreve, que o escrever propriamente; talvez não, talvez seja uma intervenção qualquer, física ou psicológica (ou ambas), multicolor e multifacial, que degrade o escritor segundo a segundo, fazendo culminar o texto: uma explosão de sentidos e idéias ruminadas no cérebro.

Sentado em sua cadeira ou poltrona, bruxuleando movimentos frenéticos e com as pontas dos dedos calosas em decorrência do contato com os teclados, ou da força exercida para segurar o cotoco de lápis corrente numa folha de papel, o escritor conserva a constante e teimosa mania de escrever. E a faz não porque é sensível ou manipulador, mas porque é um amargurado, um sóbrio desatinado, um átomo entre milhões de átomos, somente não seco, que busca na vida, e para a vida, um sentido. Em síntese, é um artista por excelência, e por isso escreve, e se balança, e se contorce, e se dedica tão febrilmente a tal aguçada arte..., para abafar as angústias da mente e do coração.

É quase uma paranóia, um frenesi assumido por esse híbrido e louco personagem que desemboca nas páginas todo o seu viço rançoso de homem comprometido e amargurado, que bebe, a sorvos esparsos, seu uísque ou café. Com um olho na tela do computador (ou na folha) e outro na droga, sua e chora e conversa. E procura sempre o melhor, porque talvez saiba que se expressar não basta e que para dizer algo tem que o redizer, pois quase tudo, e isto é certo, é/foi dito.

Com isso transgride muitas vezes e se aporrinha outras tantas, pela sua repentina e inquietante impaciência, pois evita escrever às escuras, por não ser fácil a sua tarefa, nem suave. Muito pelo contrário. Ele briga, esperneia, e quando o espírito não está bom para tão árduo exercício, ele escreve mesmo assim, só para ter a certeza do dever cumprido, da tarefa concluída. Nasce aí mais um filho, gerado de si totalmente, de suas entranhas de escritor convulsivo. Nasce o texto tão esperado, com todas as mandingas e artimanhas do artista escritor, de olhos vermelhos à frente do monitor de computador. Um texto seu que não é seu, com toda a fraca força imbuída em suas palavras. Leia-o, se quiseres, ou não, leitor. É sua a escolha.

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ESSE TEXTO É DE 29/05/2002.