Retratos no céu: estavam todas lá!

Seria um crime se eu voltasse pra casa e perdesse aquela maravilhosa e única oportunidade de ficar ali, por alguns momentos, sabe-se lá quanto tempo, contemplando as estrelas cada vez mais lindas e aparentes, destacadas no céu, conforme as idas 19:40, 20:00 iam se passando noite a dentro.

Fiquei indeciso e não sabia se retornava pra casa e me cobria bem com meus 3 cobertores nesse friozinho acalentador que faz por aqui ou se voltava em casa apenas para ver como ficou meu computador após o apagão geral e saía caminhando pelas ruas de minha localidade, minha quase "Terra-Média", nesse clima gostoso de outono. (Ops, inverno!)

Eu estava indeciso se continuava meu plano inicial de caminhar de noite pela estrada geral ou se ficava pela nossa estrada; meio que misteriosa e decididamente resolvi ficar por aqui com todo mundo e sem ninguém ao mesmo tempo. E também eu ia e voltava pelo meu caminho enquanto conversava com minha madrinha e vó ao telefone: eu sabia que tinha de ligar para elas, era muito importante e elas precisavam me ouvir por mais uma noite, para dizer que eu estava bem e saber como elas estavam também, logicamente. Queria manter por mais um dia esse laço de carinho com elas, por mais que dias complicados tenhamos em nossas vidas!

Eu estava antes caminhando umas 5 ou 6 vezes em idas e voltas pelo mesmo trecho da rua, intercalado pela iluminação das motocicletas e carros que quase me matavam, quase me atropelando, vendo que eu era mais um ser humano perdido de propósito ali e se fazendo de desentendidos e passavam raspando, talvez loucos pra escapar daquela escuridão que nada lhes afligia mas parecia lhes meter medo; mas enfim, cada um na sua.

Era interessante naquela hora da noite e aqui por onde eu moro ter de dar "boa noite" ou um "opa", por cada um que passava, fosse velho ou novo, os homens no bar, quando um deles apontou sua luminária de emergência para mim, para me ver, e eu sabendo que ele faria exatamente isso, afim de que todo mundo se "visse" ou ao menos tentasse se identificar em meio a penumbra e escuridão emergencial e que de sopetão nos veio.

Cumprimentei o aparente-sei-lá-eu dono do bar e alguns deles me responderam também e segui feliz, identificado pela comunidade e conselho geral do buteco local.

Enquanto eu caminhava e muito embora estivesse tomando minha água em minha garrafinha, minha tontura de ir e vir pelo meio da rua se dava pelo fato de maravilhado, voltar a ter a oportunidade mais que exclusiva de quem mora por aqui, nessa noite, e quem logicamente se dispusesse a fazer, olhar as tão lindas estrelas no céu nessa noite de hoje.

Andando pela rua com a cabeça olhando pro teto, feito uma criança, e docemente me lembrando de meu amado afilhado, hoje com quase 5 anos de idade, o qual amo de paixão.

Lembrei-me da expressão "luzeiro no céu", colocada na Bíblia, quando do momento em que Jesus profetiza como será o final dos tempos.

Lembrei-me também de quantas e quantas vezes pude avistar estrelas cadentes, meteoros, meteoritos riscando o céu, num espetáculo em que você vê e consegue crer de fato que elas são reais e existem: os tais cometas....a criação do mundo e do universo...DEUS! O próprio DEUS!

Meio que temeroso e receoso, não tão temeroso, mas bem mais receoso com quem vinha na rua, e se me conheceriam ou se criariam algum tipo de problema, decidi seguir e pensei: "E porque não ir e ficar na pracinha?! É, vou lá sim beber minha água e ficar de boa no banquinho da praça meditando e viajando!"

E fui. Uns moleques subindo nos bancos e mesas de concreto com sua mãe ao fundo avisando que aquilo ia dar em coisa ruim e o moleque esfolando o dedo em seguida, com a mãe atrás lamentando do porquê ele não ter arrancado metade do dedo fora para aprender.

Tudo quase que completamente escuro exceto por algumas luzes de pessoas precavidas dentro de suas casas que distribuiam parte de sua luz para as poucas almas que estavam na rua. Sentado no banco, e viajando, apenas eu.

Não durou pouco mais do que 15 minutos, mas foi algo lindo.

Olhava para cada uma daquelas lindas meninas no céu e agradecia por tantas e tantas pessoas especiais estarem e já terem feito parte de minha vida. Por amores não resolvidos, por pessoas que de uma forma ou de outra, biologicamente me geraram e me pegaram no colo: pela minha mãe, meu pai, minha tia...amores, amigos, perdões, sofreres, quereres...desejos e sofrimentos...erros, pecadose arrependimentos...mas que tudo aquilo fazia parte do grande milagre da vida, afinal!

Senti, vi e vivi todas elas olhando pra mim, vibrando, pulsando, piscando...num espetáculo lindo de viver, de fato! E de fato foi. Elas estavam comigo sim durante todo o trajeto até o momento em que parei no banco dessa tão charmosa praça aqui atrás de casa, comigo mesmo ajeitando o boné no meu doce conflito sem decidir se usava a aba dele para tapar um pouco o brilho da lua para poder ver melhor suas outras doces e lindas irmãs ou se me protegia do sereno, onde acabei optando por me proteger do sereno, dada a minha não sei dizer se correta ou errôna fragilidade em relação a pneumonia que peguei ano passado. Não dá pra arriscar feito um louco, novamente.

Agradeci a todo mundo que pude ver lá em cima...sem palavras...sem combinações, apenas olhando uma mudança de cores linda e bela, não sei se física ou que vinha de dentro de meu coração e minha alma, grato por tudo, onde estranhamente naquele cemitério cósmico não consegui chorar ou me lamentar: apenas agradeci e fiquei sorrindo para elas, lá no alto. Feliz, muito feliz!

E por hoje é só. Sigo agora na noite de hoje com uma leve dor no peito, num misto de ansiedade por voltar a escrever tanto assim, como eu já não fazia há sei lá eu quantos séculos, e por talvez a máquina do meu pulmão aqui ter esfriado um bocado, nessa pequena aventura que valeu e muito, por algumas das viagens que planejei planejei e que ainda não consegui tirar os pés do chão.

Mas elas nessa noite me ensinaram a viver de volta, e a me recordar só um pouquinho, só um tantinho assim de quem eu sou de verdade. E de como eu devo me amar e gostar de mim mesmo. De me proteger e de lutar pela minha sobrevivência. Me fizeram ver em mim poucas coisas, mas o que mais me chamou a atenção, foi o leve aviso delas de que tenho tanta coisa linda e bela perto de mim e que só nessa noite, já com as luzes dos postes acesas após um leve estrondo seco, pude ver que tenho tudo e tanta coisa boa perto de mim: o grito das crianças todas as manhãs e as tardes jogando algo na quadra esportiva, a calçada da pracinha e mesmo sua ornamentação limpa e bem conservada, tudo bem cuidado e preservado. E sim eu tenho tudo isso, pude ver, ouvir, pensar, refletir e agradecer.

E quanto a minha dor no peito que ainda tá aqui...bom, isso deixo a cargo delas...elas cuidam de mim, minhas amadas estrelas tão queridas!

Boa noite a cada uma delas e a vocês também! Durmam com os anjos. Que eles também são cuidados e guiados por elas!