Rosa especial

Encontrei no livro Vi um anjo de pé no sol, do Mosteiro Carmelo - São José – Locarno, uma informação que considerei muito interessante:

Os botânicos relacionaram 15.000 variedades de rosas, cada uma com nome próprio, dando-nos uma catalogação tão vasta e detalhada como para nenhuma outra flor, mas sem indicar sua graduação.

De fato, quem pode dizer qual seria a rosa mais bela? Cada um decide segundo seu próprio senso estético. Anualmente realizam-se concursos de beleza nacionais e internacionais, nos quais são premiadas as melhores rosas. Cf. Dietrich Wossner, Le rose più belle, Ed. Avanti, Neuchátel, 1976, p. 46.

E não é que me lembrei, por analogia, de uma outra rosa para mim muito especial? Sim, aquela tia casada com meu tio Vicente, irmão caçula de minha mãe. Na Fazenda do Pontal, onde moravam, havia muito gado, criação de porcos, galinhas, enfim, tudo que movimentava uma propriedade rural e envolvia a toda a família na faina diária, cada um dentro de suas competências. Meu tio, todas as manhãs, fornecia o leite para a Cooperativa Agropecuária de Divinópolis, instalada no bairro Niterói e procurava estar presente em todas as suas reuniões programadas.

Tio Vicente e Tia Rosa possuíam muitos amigos e sempre eram chamados para batizar os rebentos que nasciam nos lares amigos. Minha tia, muito bonita com vestido de seda, acompanhava meu tio, de charrete, também em comemorações para as quais os convidavam frequentemente. E, em casa, trabalho constante. Além de cuidar dos filhos e também de sua sogra viúva, minha avó Maria.

Cultivava a simplicidade. Ficou eufórica e feliz, numa ocasião, por inaugurar um forno de barro, na coberta perto da cozinha. As gamelas cheias de massa de biscoito! E as crianças ali na expectativa pela hora de saboreá-los.

Formavam um casal feliz, mas, um dia, com 36 anos, Tio Vicente foi internado no Hospital Nossa Senhora Aparecida, em estado muito preocupante. Fomos visitá-lo. Ele repetia, preocupado, para a esposa:

— Fica forte, Rosa! Fica forte!

E não teve jeito. Ele foi chamado para a Casa do Pai e com muita dor no coração o vimos partir.

E Tia Rosa, com trabalho e sacrifício criou e educou seus oito filhos: Carlos, Clarice, Divino, João Batista, Elias, Cesário, Moisés e Aparecida.

Seus vestidos de seda foram substituídos por roupa de luto que ela usou pelo resto da vida. Até o penteado tornou-se severo.

Em meio às dificuldades, não perdia o bom humor, a visão futurista e a sede do saber. Muito aprendíamos com ela! Com seu espírito solidário procurava sempre a ajudar àqueles mais necessitados.

A pé, ia às reuniões da Cooperativa. Luzia, minha irmã, acompanhava-a, para que ela não se sentisse sozinha, como “parte fraca” naquele ambiente totalmente masculino. Lá ela recebia as orientações, inteirava-se dos problemas e ocorrências da Cooperativa. As compras costumeiras eram realizadas em permutas do leite com produtos agropecuários. Recebia instruções quanto à educação dos filhos. Aconselhavam-na a investir no futebol para os meninos, para que eles gastassem as energias próprias da idade.

Seus filhos foram crescendo e deram suporte à mãe, participando também das reuniões.

Gostava de ouvir “causos”, apreciava uma piada, por simples que fosse. Antônio, meu marido, sempre tinha uma anedota para contar à Tia Rosa, o que ela achava o máximo, dando boas gargalhadas! A sua anedota predileta era a do marido que foi levar, no escuro, doce de leite para a mulher. Perdeu a direção, levantou a colcha pelo lado dos pés, chegou-lhe uma grande colher de pau, lambuzando-lhe o bumbum e, na hora, percebendo um pequeno ruído, falou baixinho:

— Não sopra, não, que já ‘tá frio!

Tia Rosa faleceu no dia 13 de setembro de 1973.

Numa justa homenagem, in memoriam, a escola do Bairro Vila Romana, onde ela morava, recebeu a denominação de "Escola Estadual Rosa Vaz de Araújo".

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 12/07/2019
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