O DEUS DE BABENCO

Em entrevista sobre um de seus filmes, Hector Babenco relatava a dolorosa experiência de uma doença que quase o levou à morte. Naquele transe, concebeu o filme biográfico, imaginando ser seu último trabalho, o qual foi feito durante a sofrida fase de recuperação de um transplante. 

O entrevistador pergunta se, depois daquela quase milagrosa recuperação, ele continuaria sendo ateu. Após breve hesitação, o cineasta responde que sim; o deus do imaginário religioso não poderia existir; havia, sim, um deus no coração do ser humano; cada indivíduo era um pequeno deus, disse ele. 

Na verdade, Babenco concebia o Deus que negava. Intuía poder chegar ao Criador, constituindo-se num pequeno criador. 

Acrescentaríamos que todo o ser humano pode ser um criador, mesmo não sendo artista, e compreender melhor o Grande Criador, o Deus único, tão distante do materializado homem moderno. E a maior obra de arte que um ser humano poderia realizar seria a de criar a sua própria pessoa, tornando-se um indivíduo melhor, em constante aperfeiçoamento; esta seria a obra-prima, a única a merecer tal classificação.

Nagib Anderáos Neto

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