Cárcere urbano

Saco!

No começo ele chega de mansinho, aparece esporadicamente, depois, em um processo lento e imperceptível se tornar recorrente, até que, quando atinamos nos vemos diante dele, envolvidos por seus grande e musculosos braços. Aí é que - como dizia minha bisa - a "jiripoca" pia.

Somente nesse momento nos damos conta que toda aquela mansuetude não passava de maquiagem.

Além de frio e calculista ele é super marombado; forte pra cacete! Para ser mais claro.

Depois de algum tempo sob sua tutela, reuni o último quinhão de força de vontade que me restava e consegui reatar a relação com o chuveiro. Aproveitei o ânimo momentâneo que os poros desobstruídos promovem e resolvi botar a cara para fora de casa. Um cafezinho com pão e queijo não faria mal, seria até agradável, pois meu estômago estava emitindo grunhidos indecifráveis até por diapasão.

No meio do lanche fui interrompido por um amigo de longa data que não via a bastante tempo.

-Marquinho "tediano"! Disse-me efusivamente, dando-me safanões no ombro e chamando-me por uma antiga alcunha.

Levei algum tempo para reconhece-lo. Estava muito diferente. Era mirrado, esquálido e agora se apresentava grande. Literalmente grande! Enorme em todos os sentidos. Parecia um daqueles caras que fazem malabarismo com pneu de trator nessas modernas academias.

Devolvi-lhe o sopapo no ombro, forcei uma expressão facial simpática e indaguei sorrindo.

- Por onde esteve? Sumiu cara!

- Como sumiu! Estou sempre aqui! Foi você quem desapareceu! Retrucou o gigante sorridente enquanto me aplicava um caloroso abraço com aqueles troncos biológicos.

- Como é mesmo o seu nome? Perguntei acanhado.

- Meu nome nem eu lembro. As pessoas só me chamam de Téd!

Fitei-o de soslaio, encurtei a conversa e voltei rapidamente para o aconchego do meu quarto.

Forte por forte prefiro ficar com quem tenho intimidade, com quem convivo a mais tempo. Sinto-me mais a vontade com o parrudo que tem "io" no final.