Essa é a professora? E ela é cega?

No final de junho deste ano fui aprovada num seletivo para ministrar aulas de Arte na rede pública de ensino do Maranhão. Quando decidi que queria ser professora do ensino médio, sabia que enfrentaria diversos tipos de situações boas e ruins. Por isso, planejei cada passo do meu trabalho, inclusive, prevendo situações que poderiam ocorrer sem estarem previstas. Criei uma metodologia específica para ensinar Arte e tracei estratégias de convivência social.

No meu primeiro dia na escola fui muito bem recebida pela gestora e por todos os profissionais. Imediatamente, percebi olhares e cochichos curiosos. Algumas pessoas pareciam estarem anestesiadas, talvez, por uma multiplicidade de sentimentos, medo, admiração, preconceitos, carinho... Afinal, não é todo dia que se ver uma professora cega!

Ouvi a voz de uma aluna perguntando para uma senhora se eu era a nova professora de Arte. Ela respondeu que sim e completou a frase dizendo que eu era “especial”, que eu era cega. Alguns estudantes, se esforçavam para me olharem por trás da parede de uma janela de vidro que separa o local em que estava sentada de onde eles estavam.

– Essa é a professora de arte? E ela é cega?

– Tem certeza? Como será a aula dela?

A curiosidade a meu respeito rapidamente se espalhou pela escola, tornei-me, o assunto do momento. Todos, principalmente, os profissionais da escola me perguntavam sobre minhas aulas, como faço avaliação? Como faço chamada? Etc. Algumas curiosidades, eram extremamente preconceituosas e muitas eram expressas com frases como: “desculpe é que nunca conheci ninguém assim”... a situação mais terrível que vivencio é quando alguém fala comigo me infantilizando... juro para você, que se pudesse daria um tabefe bem no meio do nariz dessas pessoas, mas, lembro que não podemos fazer tudo o que temos vontade porque, podemos ter sérias consequências.

O fato de eu ser uma professora de Arte cega, tenho vivenciado situações tão desagradável, em que sou colocada como um tipo de aberração, uma espécie de novidade a ser contemplada e temida, ao mesmo tempo, em que minhas capacidades profissionais e intelectuais são postas em dúvida. Por outro lado, existem pessoas que me identificam como uma espécie de ser, que merece ser admirado e compreendido como um exemplo de superação. Atualmente, estou vivendo uma nova fase, uma psicóloga que trabalha na escola falou que eu sou uma pessoa com altas habilidades na área de ciências humanas. Agora, só se fala nisso, e eu confesso para vocês que estou gostando.