A Iogue Sociopata

Recebi uma mensagem intrigante de uma prima minha em nosso grupo de interação familiar: – Prima querida, pelo amor de Deus, tenha cuidado! Principalmente você que gosta dessas coisas... – Junto desta recomendação, havia um link para eu compreender do que se tratava.

Pensei, em um primeiro momento, que era algo sobre política, alguma manifestação minha sobre os direitos da mulher e diversidade de gênero ou qualquer assunto que incomodaria minha interlocutora, uma evangélica fervorosa de carteirinha. Abri uma matéria de jornal que dizia: “Após fazer ioga na varanda sem usar as mãos, estudante cai de 25 metros.”

Respondi, a grosso modo, no nosso grupo virtual – É nisso que dá as pessoas fazerem acrobacias e definirem isso como ioga! – Mas não me dei por satisfeita. Porque, na verdade, isso me incomodou “as tampas”.

Como praticante assídua do hatha yoga, temo que essa arte milenar seja deturpada em suas bases primordiais, oriundas da Índia, e se transforme em mais uma modinha. Tenho conhecimento que além da hatha, existem o karma, kundalini, raja, dentre outras práticas tradicionais. Mas, pasmem! Certa vez, olhando um anuncio em uma mídia social, descobri um instrutor de uma tal de Hot Yoga. Esmiucei um pouco mais e, de hashtag em hashtag, dei de cara com uma tal de acro yoga, yoga da cadeira, partner yoga, dentre outras “técnicas” que foram me fervendo os nervos.

Quando estava para explodir, escuto a campainha tocar. Era a vizinha com um pedaço de bolo de chocolate como por desculpas de incomodo e uma crônica, escrita por ela, em mãos.

– Amiga, fiz um curso de escrita literária na internet e, como sei que você é cronista, queria partilhar com você. – Ela pediu-me isso com ares quase machadianos, como se fôssemos do mesmo “clubinho”.

“Só me faltava essa!” Pensei... Eu que sofri o diabo pra terminar minha tese de conclusão de curso em letras na Universidade Federal do Ceará, tendo um mestrado dificílimo de concluir tal como um parto com fórceps e estou pra enlouquecer com meu doutorado, não tinham mantras que me fizessem suportar aquela afronta.

Desse modo, vou dar vazão ao meu dosha primário pitta, que significa um temperamento de fogo, e vou escrachar o que quero, de vez:

Que a garota que caiu, morra! Tão como, a jornalista que teve o despautério de dizer que ela estava praticando ioga.

“E a vizinha?” – Alguém deve me perguntar.

– Também! –Namastê...

P.S. (Isso se trata de uma ficção).

Andréa Agnus
Enviado por Andréa Agnus em 29/08/2019
Reeditado em 29/08/2019
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