Brasil no divã

Ilha de Vera Cruz, Terra dos Papagaios, Terra de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz... Alguns nomes que esse nosso país-continente já teve.

O Brasil, como entidade, me faz pensar num homem, ou numa mulher, que quer mudar de vida. E esse modo de pensar me lembra, para arrepio meu, o modo de pensar do nosso amado presidente que transfigura tudo, organização, embates e economia em casamento, mulheres e anéis de compromisso, mais rápido que o prestidigitador ou o alquímico mais delirante o poderia conceber. Retomando: um homem, ou mulher, que quer mudar de vida, pode fazê-lo de várias formas: jogar o estetoscópio por cima de uma mureta, e ir viver nas ruas; se homem, pode decidir-se por ser mulher, e vice-versa; deixar isso ou aquilo, o que equivale a adquirir isto ou aquilo outro. Mas a maneira mais radical de mudar é trocar de identidade, de nome. Tornar-se outro na carteira, na apresentação verbalizada, na numerologia, para os que acreditam; deixar para trás o nome, e o sobrenome malfadado. E o ponto absurdo a que quero chegar, que farejo e procrastino, me lembra já Saramago e o seu Cipriano Algor: personagem que, num arroubo de superstição desarrazoada, ao perceber-se como o décimo terceiro de uma fila, abandona-a para retornar a ela como o décimo quarto, e pensa algo mais tarde: ainda sou o décimo terceiro, agora no décimo quarto lugar. E digo isso porque penso que o nosso Brasil, para mudar realmente, precisaria primeiro mudar de nome. Por que não? Já mudou tantas vezes. Hoje em dia seu nome é má publicidade. Se aparece como sujeito numa frase é porque desgraça e infortúnio se encontrarão logo ali no predicado. Se se encontra num ranking ruim, está lá, entre os primeiros; se é o ranking é bom, já se sabe...

Se sou, por um momento tragicômico desta quente noite, um Policarpo Quaresma às avessas, espero que, apesar de tudo, o nosso fim não seja triste.