Avenida Magalhães Pinto, 1927

Aqui nessa alcova, testemunhando-me, apenas o teto e as paredes, grande nostalgia inunda o meu coração, sendo que lembranças vem em minha mente.
Não sei se é do conhecimento de todos, mas horário de mudança de pobre é a noite. Lá em casa, não seria diferente. Mudar durante o dia, com uma multidão de quinquilharias, nem pensar, rs. Então para evitar a ignomínia, as nossas mudanças eram realizadas somente à noite.
Era uma noite de sábado, no mês de maio, no ano de 1977, acabávamos de chegar com a mudança, na avenida Magalhães Pinto, 1927, por uma década, aquele seria o nosso endereço.
Era estranho eu pensar assim, no entanto, sempre que uma mudança acontecia, o meu coração sobrecarregava de sonhos e de esperanças.
Tem um ditado muito certo: cada doido com a sua mania. Era para ser o contrário, porque sempre que mudávamos de endereço, era sinal que as coisas não estavam transcorrendo bem.

A Nossa casa, ficava ao lado da casa do seu Vitor Bretas, o proprietário da nossa residência. Ele era um senhor, que devia ter em torno dos 70 anos, alto, magro, cabelos grisalhos, bigode branco, apesar da idade, ainda era bem saudável. Era uma pessoa muito alegre, gostava muito de um bom papo, muito sorridente, todavia tinha um defeito, era cruzeirense.
A sua esposa era a dona Hidelzuíta, mas as pessoas a chamavam de Zuíta. Ela devia ser uns três anos, mais nova que o velho Vitor. Também era bem saudável, magra, os cabelos eram totalmente brancos, era outra, que adorava uma boa prosa.
Se tinha um local, onde eu não dava muita bola, para a minha adorável Soledade, era ali naquela casa. Morávamos na avenida, era intenso o movimento dos transeuntes. Se não tinha nada para fazer, sentávamos na porta de aço, e ali ficávamos observando o vai e vem das pessoas.
O velho Vitor costumava também, estar sentado no banco, em frente à sua casa. Então íamos para lá, e fervíamos no papo com ele. Era divertido ouvi-lo, contando as suas façanhas, da época da sua mocidade.
A casa era pequena para acolher oito pessoas, na época a tia Neusa, também morava com a gente, então foi preciso uma adaptação. Onde tinha a porta de aço, que era um cômodo de venda, ficou sendo o quarto das mulheres. A cozinha era um pouco espaçosa, então aproveitamos para colocar um beliche, e ali dormia eu, o careca e o Mauricinho. Dos dois banheiros que tinham na casa, em um improvisamos um quarto, e ali ficou o quartinho do Jorge,
Com o casamento, meu irmão mais velho, mudou-se para a sua casa e tomei posse do quartinho, ainda bem que as paredes não falam

Aquele endereço iria ficar marcado em minha mente, durante o período que ali morei, conquistei muitas amizades: Manoel, Gerson, Rosa, Railander, Neuzinha, Carminha, Marli, Betinha, entre outros. Infelizmente hoje, com o advento da tecnologia, e das redes sociais, as pessoas vivem ensimesmadas, dentro de quatro paredes.
Como o cine Alvorada ficava perto de casa, foi a época que mais visitei o cinema. Hoje caso eu queira ir ao cinema, devo procurar um Shopping. Naquela época, ainda não tinha, muitos carros na avenida, fato esse que nos propiciava bater uma peladinha no asfalto. Era muito comum ouvir: para que lá vem carro. O carro passava e a gente fervia novamente na pelada.
Naquela época as propagandas que mais faziam sucesso, era da Bombril e do sabonete Rexona. Quem nunca ouviu aqueles ditados: Bombril 1001 utilidades e sempre cabe mais um, quando se usa Rexona.
Também foi ali naquele endereço, que conquistei meu primeiro emprego. O povo costuma dizer: que a primeira vez, a gente nunca esquece, no entanto, como esquecer, os seis anos que trabalhei no escritório da empresa Sayonara.
Talvez a minha geração, foi a última, que ainda teve a oportunidade de viver , longe das influências da internet e dos celulares, a sociedade era mais sociável. Ah quanta saudade dos tempos de outrora.

 
 
 
 
 

 
Simplesmente Gilson
Enviado por Simplesmente Gilson em 08/09/2019
Reeditado em 08/09/2019
Código do texto: T6740381
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