EM CANTOCHÃO

In memorian ao meu cantador, um lamento à vida.

Minha pequena crônica deriva duma imagem que gosto muito, uma que fiz há alguns anos, oportunidade em que eu e um passarinho tínhamos acabado de nos refrescar, depois dum banho inesquecível numa chuva de verão, ali, no belíssimo litoral do sul da Bahia.

De repente, nos trombamos numa rápida fração do destino...

No mesmo litoral que hoje, asfixiado nas insanidades do mal, também chora lágrimas de óleo lamacento e escuso!

Ele, todo arrepiado e molhado, parecia tremer de frio suas penas encharcadas e desarranjadas, mas seu canto alto me mostrava ser a notória manifestação do prazer de se desfrutar duma liberdade saudável e consciente em todas as condições de vida.

Hoje... ele , eu, todos nós enfim, comemoraríamos e agradeceríamos, por ventura na entonação dum cantochão baixo e triste, quiçá a sortuda chance de sobreviver dentre tantas lamas dos "homens"...as que pulverizam as florestas e os ares, a escorrer pelos mares e rios, todas elas emolduradas pelas disseminadas labaredas que sobem ao alto da inconsciência humana carbonizando todas as vidas.

Decerto que tanta judiação sincronizada não seria obra dum mero acaso.

"Deus não joga dados",já escreveu a ciência.

Um cenário que só não compreende quem nele já sucumbiu a própria vida, abatido pela inconsciência de meio.

Dias de cantochão, meu caro amiguinho cantador.