O CONTADOR DE TUDO

O que um cara me falou parece engraçado, mas não é.

A princípio pensei que ele seria um louco, mas não era.

Creio que muitas pessoas têm o mesmo costume, ou o mal costume, do cara que me disse ter o incorrigível hábito de somar tudo que lhe vinha às vistas.

Ele me jurou, de mãos postas, que não tinha nenhuma satisfação ao deixar de contar qualquer coisa que visse em quantidade, tais como azulejos nas paredes, janelas de prédios, pessoas andando, animais soltos, estrelas, árvores, até mesmo os seus próprios passos e etc, etc.

Me disse ele que certa vez se pôs a contar as folhas de um galho de cajueiro, mas o vento lhe atrapalhou e ele se sentiu derrotado. E acrescentou dizendo que se estava dentro de um carro ele não deixava de contar quantos corriam em sentido contrário ao dele, e foi ai que tomei a palavra e disse-lhe:

- Sabe camarada, eu também já tive esse desatino, ou doideira; como você queira, e acho que toda pessoa já teve ou ainda tem este desvio de conduta, mas, certamente, ninguém quer falar de si próprio para não se expor. O certo é que também já contei muita futilidade, tal como eu estar num ônibus em velocidade e rapidamente tentar somar quantas casas se passavam por nós. Eu, em outra oportunidade, avistei um rebanho de vacas pastando, bem longe, e me pus a contá-las como se eu fosse um capataz daquela fazenda, ou mesmo um alguém destinado a tal atividade. O ônibus corria muito, e eu, por não conseguir contar todo aquele rebanho, simplesmente me amargurei, e muito contrariado comentei com o vizinho da poltrona ao lado, assim dizendo-lhe:

- Sabe moço, estou muito chateado. Não consegui contar todas as vacas daquele pasto, será que estou doido?

E o cara, me olhando admirado, assim me respondeu:

- Muito chato, né? Mas eu também não consegui.

Ai sorrimos.

José Pedreira da Cruz
Enviado por José Pedreira da Cruz em 12/10/2019
Reeditado em 13/10/2019
Código do texto: T6767692
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