Não devíamos, mas acabamos aceitando

Não devíamos, mas acabamos aceitando e acostumando-nos.

Com raras exceções.

Acostumamos-nos com casas para morar sem vista alguma pelas janelas, somente da porta da frente.

Com uma cidade que não tem cinema, não tem teatro, não tem incentivo algum para a cultura.

Esquecemos de ver o nascer ou pôr do sol uma vez ou outra por que tem coisas mais importantes a fazer.

Esquecemos o próprio ar que respiramos na medida que não nos importamos em combater a poluição.

Acostumamos-nos a acordar pela manhã com poucos minutos para fazer um milhão de coisas antes te sair para outros compromissos.

A tomar café correndo enquanto ver as notícias no celular porque não pode perder tempo.

A lanchar por aí e correr para o trabalho porque não dá tempo almoçar.

A sair do trabalho lá pelas oito ou nove da noite quando bem antes já deveríamos está em casa.

A cochilar na frente da TV deixando de ver ao um bom filme porque está cansado.

A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A não agradecer a Deus pela vida ao nascer do dia e por encerrar com coragem e esperança o fim de cada jornada.

Acostumamos-nos a ligar a TV e vermos os programas policiais que alimentam muitas vezes e enraízam a violência na sociedade.

Aceitamos os números da violência sem sequer nos indignarmos.

A esperar o dia inteiro e ouvir uma mensagem no WhatsApp: hoje não posso ir.

A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.

A sermos ignorados quando precisávamos tanto sermos vistos.

Acostumamos-nos a pagar por tudo o que desejamos e o que muitas vezes nem necessitamos.

A lutar para ganhar o dinheiro sem se preocupar com a felicidade.

A ganhar menos que precisamos.

Gastar mais que podemos pagar.

A guardar o que sobra e vivermos como se não tivéssemos nada.

A pegar longas filas para pagar.

Pagar mais caro por aquilo que vale menos.

E a o pior saber que a cada dia vai ter que pagar mais.

A estarmos sempre de olho em busca de um novo emprego (melhor) que renda-nos um pouco mais aumente nossos salários para justamente termos com que pagar nas longas filas que se cobra.

A andar por aí e não se indignar com a pobreza que assola os mais humildes.

Acostumamos a valorizar e consumir produtos que exploram a figura da mulher para influênciar o consumo.

A não respeitar nossas crianças.

A achar (egoísmo) que o ser feminino e mais fraco que o masculino quando na verdade as mulheres é que são seguramente muito mais fortes e humanas que os homens.

Acostumamos-nos a ter esperança mas não lutar por nossos sonhos.

Acostumamos-nos com os legumes infectados por veneno e às bactérias das "águas potáveis" que saem dos poços de sal nas profundezas do nosso sertão boaviagense.

A lenta morte da nossa floresta.

Acostumamos a não ouvir o canto do galo.

A não colhermos a fruta no pé

A não termos sequer uma planta em casa.

Acostumamos-nos com os políticos (com raras exceções) que sugam o suor do povo com os roubos e como se não bastasse a cada eleição conseguem enganar o povo.

A não perdoar e muitas vezes se quer pedirmos perdão.

Acostumamos a trabalhar horas em casa ou no trabalho para ganhar um pouco mais esquecendo-nos de viver.

E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

Acostumamos abrir mão de um momento feliz por causa do nosso medo.

A não dizer a pessoa que ama o quanto a ama.

A jogar fora a oportunidade de ser feliz só porque não tomamos a iniciativa.

Acostumamos com policiais corruptos e não valorizar os que realmente dão a vida para nos salvar.

A convivemos com os nossos defeitos por achar que não conseguimos mais mudar ou simples egoísmo ou acomodação.

Talvez a gente se acostume com as coisas demais só para não sofrer.

VR Rodrigues
Enviado por VR Rodrigues em 13/10/2019
Reeditado em 14/10/2019
Código do texto: T6768813
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