TEMPOS VAZIOS

Peço antecipadamente escusas, talvez eu seja mesmo um dinossauro, mas estou muito incomodado com o vazio dos últimos tempos. Na política, na administração, economia e na cultura. Nem mais a bons programas de humor a gente consegue assistir. Não vejo novelas, mas duvido que exista coisa empolgante em cartaz. Os filmes são ridículos ou voltados a público infanto-juvenil. Os melhores são biográficos, musicais ou baseados em caso real. Tem havido bastante apelo erótico, também. Não vislumbro lançamentos literários de peso – a exceção justifica a regra. Na música, muita pobreza dominante, uma ou outra coisa de certo valor. Não me considero como tal, mas entendo que seja criticado por comportamento saudosista, afinal, não estou em sintonia com o que está acontecendo. Não gosto de comparar o dia de ontem com o agora, tudo muda, mas o moderno parece temporariamente sem grande qualidade. E olha que a tecnologia ajudaria muito! Minha mulher, à noite, depois da novela (boa ou má - as mulheres estão habituadas a acompanhar), assiste à GRANDE FAMÍLIA ou a ENTRE TAPAS E BEIJOS para relaxar, o que já é coisa “das antigas”. Chico Anysio e Jô Soares ainda estão muito presentes, os demais são fugazes, eventuais, de fácil dissolução. Eu navego basicamente no plano virtual, televisão é mais para futebol e certas entrevistas ou reportagens, muito escassas. O jornal impresso é coisa do passado, parece. Muita gente tem viajado ao exterior, como nunca, apesar do preço do dólar e do euro. Diversas fotos bacanas no Facebook. Mas, tirantes alguns ícones, tenho visto poucos museus, galerias de arte, lugares interessantes e pouco turísticos, novidades, com exceção de uns poucos, sobretudo daqueles viajantes mais calejados, que nos brindam com ricas postagens. Mesmo lugares badalados podem ensejar diferentes e interessantes apreciações, sem que as coisas sejam muito rápidas, corridas: fotinhos tradicionais e deu pra bola. Mas o que interessa, enfim, é a reflexão sobre o rumo da vida e do nosso dia a dia. É possível fazer, pelo menos, filmes como UM SONHO DE LIBERDADE, O PODEROSO CHEFÃO ou O SEXTO SENTIDO. Destaque em 2014, o filme A GRANDE BELEZA, extraordinário, é prova cabal de que se pode ainda agora produzir obra de fôlego. Talvez não empolgue a maioria dos mais jovens, sei lá, mas HOMEM FORMIGA não tem nada a ver comigo, que sou alérgico.