SERÁ QUE COMPREENDI?

Chegando-me às mãos o livro de Wislawa Szymborska (pronuncia-se Vissuáva Chembórska, segundo li na internet), detentora do Premio Nobel de Literatura de 1996, imediatamente fui ler a poesia que lhe empresta o nome, “Um Amor Feliz”, onde a poetisa começa indagando:

“Um amor feliz. Isso é normal,

isso é sério, isso é útil?

O que o mundo ganha com dois seres

que não veem o mundo?”

Confesso que fiquei intrigado! Afinal, a mim parece trivial que um amor seja feliz, assim como se pode dizer que quem é feliz no amor é porque o vê com seriedade e nunca me passou pela cabeça perquirir sobre a utilidade do amor ou sobre a contribuição que amantes felizes possam dar ao mundo, embora acredite que, no geral, pessoas felizes contagiem outras menos felizes e tendem a encarar o mundo de uma forma melhor ou menos ruim.

Segui com a leitura e na segunda estrofe encontrei a afirmação de que no enaltecimento mútuo dos felizes amantes não há mérito algum: “Enaltecidos um para o outro sem nenhum mérito...”; é injusto para com os outros: “a luz cai de lugar nenhum – por que justo nesses e não noutros? Isso ofende a justiça? Sim.”; e amoral: “Isso infringe os princípios cuidadosamente acumulados? Derruba do cume a moral? Infringe e derruba ,sim.”

Não alcancei o significado deste quadro desolador. Seria uma proclamação de inveja da felicidade alheia ou da incapacidade de amar? Não sei dizer.

Adiante o poema nos manda observar os amantes felizes e nos induz a acreditar que a manifestação, sem disfarces, da felicidade deles é capaz de nos causar algum mal e que “é um insulto” e “parece um complô contra a humanidade!”, apontando nas próximas estrofes que imitá-los poderia afastar as pessoas da religião e da poesia, como se para elas – a religião e a poesia - mais importância teriam o desamor e a infelicidade. Indagando, ainda, sobre a necessidade do amor feliz e afirmando sua inutilidade na procriação humana, dado tratar-se de uma raridade.

Notei aqui algum ceticismo em relação ao amor e a felicidade, enquanto dons inerentes a toda e qualquer pessoa. Prossegui lendo:

“Os que não conhecem o amor feliz que afirmem

Não existir em lugar nenhum um amor feliz.”

Esses versos me pareceram conter uma incoerência em relação a todo conteúdo anterior, na medida em que dão a impressão de enobrecer o amor e a felicidade dos que amam, produzindo em mim, por isso, o sentimento de incapacidade de compreensão do poema, mas segui adiante e li no último verso:

“Com essa crença lhes será mais leve viver e morrer.”

Esse derradeiro verso, me fez reler o poema uma, duas, três vezes, até extrair dele a conclusão de que a poetisa o tempo todo exorta o leitor a refletir sobre a necessidade de amar, através da percepção de que se assim não o fizer terá que conviver com sentimentos menos nobres e fechar os olhos para a possibilidade de ser verdadeiramente feliz.

Se estiver errado, me rendo: este poema é inacessível para mim.

Hegler Horta
Enviado por Hegler Horta em 31/10/2019
Reeditado em 31/10/2019
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