O nada

Hoje acordei com uma estranha vontade de falar sobre o nada, sobre o inexistente. Não me considero, porém, um lunático, pois acredito que não sou o único. Afinal, quem nunca se sentiu tão atormentado a ponto de querer fugir rumo ao infinito?

Imagine que sua vida está programada para acabar em um minuto. Suponha que todos os seus amigos se esqueceram de sua existência. Considere que o grande amor da sua vida (no momento) não faz questão de sua companhia. Imagine, ainda, que todos os membros de sua família morreram em um acidente trágico provocado por sua irresponsabilidade. Finalizando, perceba como será angustiante sua vida nos próximos sessenta segundos, os últimos de sua luta aqui na Terra. Após todas as suposições supracitadas, posso ter a plena convicção de que você está alucinadamente preparado para tentar entender minha situação.

Acompanhe-me, se conseguir. Saiba que não tenho nada, não tenho ninguém, não luto por nada, não sou disputado por ninguém. Então pergunto: qual a minha utilidade? Para que eu sirvo? Eis aqui sua resposta. Minha função é o nada, vim para representar o inexistente, tenho como norte o inefável, guio-me pelo caminho do infinito. Esse sou eu, mas quem é você? Aliás, o que é você?

Falar milhões de besteiras é muito fácil, veja meu caso. Estou com mais de duzentas palavras e ainda não disse nada que se possa aproveitar. Observe, também, sua postura. Por que não parou na primeira linha? O banal é comum entre nós. Tenho medo de falar, por isso escrevo, porém você tem medo de escutar, por isso finge não me ouvir.

Sérgio Reiss
Enviado por Sérgio Reiss em 03/10/2007
Código do texto: T678591
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