QUARENTENA NA CELA

Vez em quando a gente vê na internet imagens parecidas com cenas cinematográficas, onde aparece inúmeras viaturas policiais perseguindo bandido que conduz veículo roubado e a gente fica até bem emocionado com a agilidade e perícia que o tal indivíduo demonstra na condução do veículo em alta velocidade por ruas, avenidas, rodovias, becos e vielas. O perseguido acha que nunca será pego, pois ele é bem conhecedor de todo roteiro por onde passa carregando atrás de si umas dezenas de policiais, mas no final da perseguição ele é sempre o grande perdedor.

Esse tipo de conduta criminal tem caráter universal, mas a gente acha que nunca a veremos de perto e a cores.

Essa espécie de delinquência existe em muitos países mundo a fora, pois é fácil de se encontrar vídeos com conteúdo assemelhados.

Hoje, no meu quinto sábado de quarentena contra o covid-19, acordei e fiquei a observar a calma espacial que havia no entorno de minha morada tendo apenas, como fundo musical, os alegres sibilos de alguns bem-te-vis que, como sempre, nas manhãs costumam me acordar e logo me levanto para mais um dia igualitário.

Hoje tudo parecia pacato até o crucial instante em que um ensurdecedor barulho de sirenes invadiu o silêncio e de mim se aproximou. Toda vizinhança ficou extasiada com tal evento. Eram mais de vinte viaturas e motos policiais, todas enfileiradas e batulhentas no encalço de um automóvel branco passando por minha rua que sempre foi silenciosa. Parecia uma procissão atrás de um carro que não levava nenhum venerável santo, mas, sim, um ladrão. Não mais distante que um quilômetro de mim tudo parou. Pegaram o sujeito. Era um jovem. A polícia o levou, amavelmente, para cumprir uma quarentena sem prazo definido para dar-lhe alta.

Nunca imaginei assistir, da janela da minha casa, uma cena tão similar às exibidas nas telas de projeção cinematográfica, e tudo isso a poucos metros de mim.