O falso negativo - R. Santana

 

Nunca o endeusei nem o achei herói da República nem o salvador da pátria, sempre o achei falso negativo (quando o indivíduo está doente e o teste não dá positivo), esta metáfora tem a pretensão de justificar o título desta crônica. Enquanto todos achavam, na época, que o magistrado Sérgio Fernando Moro, da 13ª. Vara Criminal de Curitiba, o arauto da anticorrupção da operação Lava Jato, modestamente, eu colocava o pé atrás.
O povo comparava a Lava Jato à operação “Mãos Limpas” da Itália. Deltan Dallagnol era comparado ao coordenador da “Operação Mãos Limpas”, o Procurador da República Antonio Di Pietro.
Deltan fez um power point para justificar o caminho do dinheiro da corrupção desviado da Petrobrás e Lula o chefe de todo sistema corrupto. Deltan ainda desafiou o Supremo Tribunal Federal (STF) com o movimento: “VEM PRA RUA”.
O site The Intercept completou as minhas apreensões, a minha cisma... As mensagens das contas do Telegram de Moro, de Deltan Dallangnol e outros integrantes da Lava Jato, interceptadas pelos hackers Walter Degatti Neto, Gustavo Elias Santos, Luiz Henrique Molição, Suelen Priscila e Thiago Eliezer Martins Santos, embora fossem atos de organização criminosa, essas mensagens pareciam verdadeiras. Alguns membros do STF ainda acham que essas interceptações não autorizadas: a invasão de dispositivos de comunicação e informação alheios, elas têm que ser analisadas com isenção e seriedade pela evidência de verdade.

Quando questionado pela imprensa, o então Ministro da Justiça justificava que não iria comentar os crimes dos hackers, quando o repórter insistia, ele “não lembrava” ou respondia que estava com a “consciência tranqüila”.
Moro não descansou enquanto os hackes não fossem colocados atrás das grandes, que ocorreu 6 meses depois pela PF, além de processar o jornalista e diretor do “The Intercept Brasil, Glenn Greenwald.
As más línguas diziam que a relação de Moro e Dallagnol nos processos da Lava Jato, excedia às funções de juiz e procurador, o primeiro, com projeto político de poder, haja vista, ele jogou 22 anos de juiz federal para as “cucuias” e aventurou-se receber um ministério de Jair Bolsonaro; o segundo, procurador da República, conferencista, palestrante, escritor e, possivelmente, senador da República no futuro.
Os diálogos “rackeados” sugerem que havia colaboração “suspeita” entre Moro, o pessoal do Ministério Público Federal (MPF), em particular, o procurador Deltan Dallangnol, nos processos da Lava Jato. Alguns operadores do direito e juristas sustentaram, naquela época, que Moro usou LAWFAREY (principalmente com Lula), instrumento jurídico de perseguição política, destruição da imagem pública e a inabilitação de um adversário político. O objetivo do LAWFAREY é acusar o indivíduo sem materialidade de provas e o abuso de direito e prejudicar a reputação do adversário.
Eu tenho uma antipatia orgânica por Moro, acho-o fingido, cínico e não judicioso. E, à medida que as mensagens de THE INTERCEPT BRASIL eram divulgadas, justificava-se ainda mais, a minha ojeriza pelo ex-juiz da 13ª. Vara Criminal de Curitiba.
É notório o grampo que gravou as conversas de Dilma Rousseff e Lula. Naquela época, a presidente Dilma no meio de um furacão político, prestes de um “impeachment”, ela dá prerrogativa de foro na Casa Civil ao seu antecessor. Moro suspende o sigilo dessas conversas, obtidas de maneira ilegal e não poderiam ser divulgadas, conforme os especialistas e Moro as divulgou e justificou: “Como havia justa causa e autorização legal para a interceptação, não vislumbro maiores problemas no ocorrido, valendo portanto, o já consignado na decisão do evento 135 (que autorizou a divulgação da conversa).
Ele tornou público, também, as conversas de Lula e seu advogado Roberto Teixeira. Alegou evidências de envolvimento de Teixeira na aquisição do sítio de Atibaia. Cristiano Martins, sócio de Teixeira e advogado do ex-presidente, afirmou que a interceptação e a divulgação de conversas de cliente e advogado é muito grave e completou: “Monitorar advogado significa jogar por terra a garantia do contraditório e à ampla defesa e, também, coloca em cheque as prerrogativas profissionais e a atuação do advogado no caso...”, disse Crstiano Zanin Martins.
A divulgação das conversas de Moro e Deltan, interceptadas pelos rackers e as mensagens dos “grampos” que interceptaram conversas de advogados e seus clientes e autoridade com prerrogativa de foro, sugerem que o STF “deveria revisar” todos os processos da LAVA JATO.

Recentemente, Sérgio Fernando Moro solicitou sua exoneração do Ministério da Justiça e Segurança Pública, com o pretexto que o presidente Jair Messias Bolsonaro queria intervir na PF politicamente. Capciosamente, premeditadamente, ele colocou o presidente do país no meio de um furacão jurídico, depois da exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Mauricio Valeixo. Como prova, seus advogados solicitaram à justiça, o vídeo de 22 de abril, reunião com todos os ministros para discussão do programa Pró-Brasil, que nessa reunião, Bolsonaro cobrou relatório de inteligência, substituição do superintendente da PF (Rio de Janeiro) e de Valeixo.

Em sua saída (24.05.2020), sob os holofotes da GLOBO, ele colocou em “saia justa”, seu ex-chefe: "Bolsonaro quer uma pessoa para a qual pudesse ligar, colher informações, que pudesse colher relatórios de inteligência, seja o diretor-geral, seja o superintendente, e realmente não é o papel da PF prestar esse tipo de informações", disse Moro. É notório o que ocorreu depois: Augusto Aras provocou o STF, o ministro Celso de Mello autorizou depoimentos de Moro, Valeixo, Ramagem, policiais federais e a divulgação do vídeo em parte ou todo o vídeo.
A maioria dos brasileiros acredita que Bolsonaro foi “grampeado” por todo esse tempo de governo. É claro que esse crime nunca virá à tona, pois os hackeadores seriam condenados por anos por crime cometido a um chefe de estado, crime de segurança nacional. Moro não “criminalizou” o presidente, mas, indicou muitas evidências, isto é, “caminhos” e "evidências" para justificar sua exoneração, inclusive, a reunião do programa Pró-Brasil.
Hoje, o povo brasileiro tem consciência que nunca teve um herói, um salvador da pátria, um soldado das “Cruzadas”, um guerreiro da cruzada ética e moral, com espada, armadura, capacete e uma bandeira com uma cruz da anticorrupção, mas, um homem não judicioso, perseguidor, tendencioso, calculista, escravo da mídia, escravo da fama, ambicioso, que renunciou às benesses de magistrado para um projeto de poder político, talvez, presidente da Republica, um homem falso negativo


Autoria: Rilvan Batista de Santana
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