NARRAÇÃO DE UMA HISTÓRIA DE AMOR

Ele poderia ter sido só um sacerdote: bondoso, benevolente, amoroso para com aqueles que necessitassem da sua ajuda e do seu amor, mas não foi só isso...

A fé e o sentimento que lhe aquietavam o espírito o convidavam para uma missão!

Um acordo íntimo, indecifrável, entre ele: o novo Padre e o Altíssimo!

Seria árdua a missão, difícil de adaptar-se, mas a exemplo de Cristo Salvador, o jovem Padre venceu o medo e enfrentou os desafios. No ano de 1969 com o País em plena Ditadura e desequilíbrio social, chegara em silêncio em uma terra desconhecida, diferente de sua calma e singela Galliera Veneta na Itália. Seus olhos azuis se perderam no reflexo holístico do cintilante céu em direção a uma serra tão seca e tão pobre.

Começara a Seara. Trabalharia por uma gente que nem conhecia por nome, por uma terra que ainda não explorara, mas não temeu nem vacilou em nenhum momento, rezando cultivava a fé.

E como disse: Poderia ter sido apenas isso. Mas não foi!

Assim como o amor de Cristo, o amor desse jovem Padre foi mais além... Caminhou com os pobres, amou os pequeninos, evangelizou humildemente, singelamente, quase sem ser notado fez de sua missão um exemplo de vida, tornou-se chama viva da fé no seio familiar de cada Limoeirense. És orgulho!

A exemplo do mestre, ele entusiasmou, motivou, convidou a caminhar consigo, construiu...

O Centro de Formação de Menores: seu Lar, intensificou-se como a moenda de maior transformação de todos os jovens de Limoeiro, já era realidade, foi o Vale de águas mais límpidas e fluentes que percorreram o Atlântico entre sua amada Limoeiro e a Itália.

Os sentimentos já se confundiam, Pe. Luis já era tão nosso que não se sonhava uma Limoeiro sem a sua presença. Ele era o pai de todos, o Pai dos pobres, dos mais frágeis, daqueles que rogavam a sua misericórdia, seu olhar! Ele viveu porque acreditou em um mundo melhor, homem de fé! Nesta terra humilde de temperatura quente ele deixou suas marcas, construiu sua família espiritual, sem distinção de cor, raça ou posição social, sem vacilar em nenhum momento.

Envelheceu sob os quentes raios solares do céu nordestino da sua amada Limoeiro, rodeado do avultado laço amoroso transmitido por todos a sua volta, chegara então a hora de na velhice retornar para casa.

E justamente por este motivo que resolveu ficar! Porque aqui era a sua casa, aqui estava a sua felicidade, próximo aos pobres, continuando o que começara, junto à criancinhas, suas amigas mais verdadeiras. Continuar na obra do BEM era o alimento que lhe fortalecia mediante a ação inexorável do tempo! O amor por esta cidade o impedia de ir

embora, era necessário continuar.

Um dia, porém, todos retornamos a casa Paterna, a fila da grande morte para uma nova vida nos conduz... Eis a passagem! E em uma triste manhã de sexta-feira antecedente a Páscoa, Padre Luis nos deixou fisicamente para fazer parte da sublime constelação daqueles que emanam mais LUZ! Foi na Itália que o viu nascer, onde preparou-se para a grande partida, voltando seus olhos para as imagens mais encantadoras dos pinheiros Europeus e o seu coração para a sua amada e inesquecível cidade de Limoeiro.

Retornaria para casa...

E retornou...

Retornou a este latifúndio nordestino para descansar mais próximo de cada um de nós, filhos que ficamos órfãos da sua presença, mas não do seu amor!

Grande foi a Romaria de Chã de Alegria ao Centro de Formação, onde foi envolvido pelo amor e carinho do último adeus de todas as suas crianças e jovens. Mas ficava a certeza que o dever estava cumprido, que o principal já havia sido feito, eram notáveis os frutos!

Os raios de sol agreste-setentrionais não se cansavam de intensificar luz, a Igreja Matriz parecia admirar a suavidade do próprio tempo na emoção da chegada do corpo.

Seria a última vez em corpo presente! E elevado pelas mãos dos sacerdotes tão amados, tão devotos seus, tão seguidores, foi conduzido em meio à multidão, assim como sempre gostou de fazer, em cortejo até a sua sempre morada. Não existem palavras que

descrevam o momento, até os suplícios do destino contribuíram para fazer de Padre Luis a estrela que mais brilhava no momento, desfazendo a escuridão. Nas portas das casas lenços brancos acenavam o último Adeus, corações de Cristo Jesus eram elevados nas varandas cercados por dezenas de velas que denunciavam com sua luz as lágrimas

brotadas de cada rosto. Tudo tão simples, tão verdadeiro, assim como Padre Luis.

Nunca tantas famílias perderam de uma única vez um ente tão querido! Nunca antes se viu tanto mistério, tanta fé!

Banhado pelas Lágrimas da tristeza o Alto de São Sebastião surpreendia-se pela cena que se passava, nunca a procissão se fez tão grande, no seu caminho inverso ( da

Matriz para o Alto), tão triste, tão amarga. Eram os filhos de Padre Luis que trocaram o vermelho da Paixão pelo Branco da Paz, para render as últimas homenagens a esse pai tão querido, conduzindo-o a sua para sempre morada. Tudo era incomum, até o céu naquela noite pusera-se mais estrelado, a relva, os cânticos eram mais tristes.

Entrava Padre Luís para sua Igreja do coração, aquela que ele morava, amava e agora descansa. Certo que cumpriu a tarefa com êxito, nos deixou para continuar o seu trabalho, agora, em outras paragens... Porque segundo ele, o trabalho do bem nunca pode

parar...

Se ele se foi? Com certeza não!

Ele só não queria ser melhor, nem diferente dos outros seres humanos. Era assim sua simplicidade! Escolheu também passar pela morte para viver sempre no coração de cada Limoeirense. Porque afinal de contas, Limoeiro é o lugar que ele escolheu e que sempre gostou de estar!

Padre Luis Cecchin – Um Exemplo de amor

Que nós, filhos natos da Princesa sigamos o exemplo de amor do Padre Luis, acreditando em um Limoeiro cada vez melhor, através também das nossas ações, preservando tudo que aqui ele deixou. Porque o trabalho do bem, nunca deve parar...

J. C. A. Nofox