CORRENTES EVOLUTIVAS...

 

Um provérbio português nos diz que "a água corre para o mar e as coisas para o seu natural", mas a mensagem que consta da primeira parte deste provérbio é um fato que deve ser visto com mais calma, uma vez que antes da água chegar ao mar ela passa por várias etapas que devem ser analisadas em separado, uma da outra, a saber:

Inicialmente, a maioria das correntes de água tendem a se formar de uma nascente, que tende a formar um córrego, que segue para um riacho que desagua num pequeno rio, que descarrega suas águas num rio maior e, finalmente, alcança o mar. É o ciclo natural e evolutivo das águas correntes do planeta Terra.

Há três tipos de rios no nosso universo de águas correntes: os rios efêmeros, os intermitentes ou temporários e os rios perenes. Os rios efêmeros existem somente quando fortes chuvas acontecem, que são as chamadas torrentes. Os rios intermitentes são aqueles cujos leitos secam ou congelam durante algum período do ano. Já os perenes, são os que correm durante o ano todo.

Na vida dos "homens do povo" que são profissionais da política partidária, aqueles que estiveram e que ainda estão a comandar o destino do povo que eles se dizem representar, há uma série de etapas entre eles que não é muito diferente do que acontece com a formação dos rios, se compararmos com as várias fases evolutivas pelas quais a água passa antes de chegar ao mar.

Esse ciclo evolutivo na política partidária poderá ter várias etapas de crescimento até ele atingir o ápice dessa trajetória que é o cargo de mandatário mor da nação, sendo que poucos desses casos evolutivos se tornarão rios perenes; a maioria dessas trajetórias acaba se transformando em rios efêmeros (passageiros), ou em rios intermitentes (cheios de altos e baixos) durante sua existência.

A se considerar o ciclo evolutivo das correntes de água até se tornar um rio médio que poderá desaguar noutro rio bem maior e consequentemente em um oceano, os ciclos evolutivos de um “homem do povo”, geralmente passarão por etapas semelhantes, em termos de crescimento político partidário, até ele atingir seu ápice, que é o cargo de mandatário mor da nação, se este for o caso.

Há muitas formas de esses “homens do povo” iniciarem sua trajetória política, e elas poderão variar umas das outras, conforme a formação do seu veio primitivo, mas aqui serão destacadas apenas as cinco mais conhecidas, a saber:

a) Por incentivo/indução do povo;
b) Produto de comoções populares inusitadas;
c) Tradições familiares (passagem de pais para filhos/netos);
d) Espontaneidade carismática (bons de conversa);
e) Por meio do incentivo de patrocinadores importantes.

A mais simples delas, a mencionada na alternativa "a", tende a ocorrer, hipoteticamente, quando certa pessoa influente de um bairro é eleita presidente de sua associação amigos de bairros. Geralmente, ao realizar um bom trabalho social por algum tempo, ela se aliará a um “homem do povo” que se diz preocupado com aquele bairro ou região, posteriormente, ambos se juntam a outros “homens do povo” de maior potencial político partidário e elegem um prefeito, que se junta a outros prefeitos e elegem um governador, que se alia a outros “homens do povo” influentes e já veteranos na política partidária e, ao reforçar todos os elos dessa grande corrente, acabarão por eleger um presidente, que é o mandatário mor da nação.

As demais formas de ingresso têm seus ciclos evolutivos característicos e, na maioria das vezes, elas ocorrem naturalmente e sempre contam com a atitude ativa ou passiva dos correligionários/seguidores, que preferem acompanhar o andor da carruagem dos seu(s) ídolo(s), se preocupando apenas com o dia previsto para seu início, a terem de acompanhar pari passu o ciclo evolutivo deles ao longo dos tempos, a ponto de se certificar que eles terão ou não uma data de validade eficazmente predeterminada.

No frigir dos ovos, os "homens do povo" que vivem da política partidária e os cidadãos que vivem no seu entorno, atuando como seguidores, incentivadores, dirigentes, diretores, secretários, assessores, ministros, etc., geralmente agem como aquela pequena corrente de água que saiu de uma simples nascente, formou um córrego, seguiu para um rio pequeno, depois para outro maior, chegou ao oceano e acabou se misturando com outras águas de diferentes procedências.

Se transportarmos essa analogia para o mundo da política partidária conhecido, veremos que o aumento do volume do apoio popular para com o crescimento e publicidade da vida política dos "homens do povo", em geral, ele é meio parecido com o que acontece com o desenvolvimento e crescimento da força das águas de um rio, seja ele um rio efêmero, um rio intermitente/temporário ou um rio perene.

Em algumas situações, o volume do apoio popular poderá assumir dimensões imensuráveis ao ponto de esse “homem do povo”, empolgado que o estiver, perca o controle dessa evolução, tanto no sentido figurado, quanto no sentido literal da palavra e, assim como as águas poderão correr descontroladamente até caírem no mar, um “homem do povo”  eufórico, quando mal orientado e/ou mal assessorado, poderá perder totalmente seu controle técnico e emocional na condução de seus atos, tendendo a fazer o papel de um bobo da corte e, fatalmente, acabará caindo no mar do ostracismo.

Enquanto a maioria das correntes de água que formam os rios vai para o mar e as coisas para o seu natural, alguns “homens do povo” que visam à obtenção e manutenção do poder a qualquer preço, inevitavelmente, tenderão a se aliar a outros com ideias e ideais similares e passarão a formar novos pares com ideias e ideais congêneres em seguida e, decididamente, farão parte do mesmo tomo que registrará, em separado, suas histórias.

Se após a formação dessas alianças esses “homens do povo” conseguirem criar correntes sólidas que os conduzam para o mar das boas realizações, eles poderão ter vidas longas, igualmente prósperas, como sempre o tem acontecido com os rios perenes. Contudo, se essas correntes se formarem, desde sua nascente, com objetivos perversos e mal intencionados e adotarem a prática constante de más atitudes governamentais, em pouco tempo elas se transformarão em rios efêmeros, que tenderão a desembocar no mar da corrupção, culminando com a decadência moral e social, politicamente falando, desses novos pares que estiverem em ação.

Por fim, da mesma forma que nas correntes fluviais, antes e durante a chegada de suas águas ao mar, elas tendem a se mostrar limpas em alguns pontos, mas noutros elas tendem a se fundir com o lodo e/ou com a lama, à medida em que o seu uso passa por transformações de maus tratos, a aparição do lodo e/ou da lama na vida política de certos "homens do povo" poderá ser uma constante que deverá ser evitada, sob pena de eles se transformarem em rios iminentemente temporários, sem a mínima possibilidade de, com o passar do tempo, se tornarem rios perenes.