A língua portuguesa

Para Olavo Bilac, a “Última flor do Lácio, inculta e bela”. Para Caetano Veloso, “a língua é minha pátria”. Para muitos, apenas uma forma de se comunicar. Com alguns desencontros, é verdade, nem sempre coincidindo o que se fala com o real sentido da palavra. Por ser uma posse de todos nós, cada um se acha no direito de falar como acha que é, e ainda teimar que o certo é daquele jeito. É assim com a nossa velha língua portuguesa.

Pensei nisso depois de uma conversa com um dos netos. Aos nove anos ele já aprendera (pela norma culta da língua) o jeito certo de falar a palavra reCORde, com acentuação tônica na penúltima sílaba. Foi ensinado na escola que, para a pronúncia ser na antepenúltima sílaba (do jeito que os apresentadores da Globo a pronunciam, puxados pelo anglicismo) ela seria proparoxítona e, assim sendo, teria que ser acentuada. O que não é o caso. Ficava muito feliz ao ouvir a sua pronúncia correta. Até que um dia ele “globalizou”, esquecendo as lições da escola. E, por mais que tentasse convencê-lo com as palavras, não teve jeito. Até que recorri ao velho Aurélio, seguido de uma pesquisa na internet, diante dos seus olhos. Só assim pude ouvir dele: “- Você está certo, vô”.

Com a nossa bendita língua é assim. Há palavras, por exemplo, que de tanto as pessoas a pronunciarem de forma incorreta, quem a usa da forma certa, parece estar falando errado. Alguns exemplos: Num documento de muitas folhas, a assinatura vai para o final. Para dar autenticidade, pede-se que se coloque em cada uma das outras folhas a sua... ruBRIca. Semelhantemente à palavra recorde, ela também é paroxítona, tendo a tonicidade na sílaba bri. E você não é o único privilegiado a ter ouvido a pronúncia como se ela fosse proparoxítona. Viram que eu escrevi “prIvilegiado” e não “prEvilegiado”? Essa é uma das palavras em que, equivocadamente, se troca o i pelo e.

Mas você sabia que a discordância entre as pessoas sobre a forma correta de se pronunciar pode levá-las a se dIgladiar? Mas é comum ouvir alguém dizendo que elas se “dEgladiaram”. Novamente a troca, indevida, do i pelo e.

Tem mais. Para ganhar clientes às vezes as empresas oferecem produtos gratuitos. Não tem acento no i, certo? Mas ouve-se muito a pronúncia, como se acento houvesse: gratuÍto. A palavra é trissílaba e não polissílaba. Trata-se de um erro chamado silabada. Por sinal, o mesmo que acontece com a palavra recorde.

Tudo isso e mais os “iorgutes”, em vez de iogurte, “estrupo”, substituindo o estupro, “detetizar”, em lugar de dedetizar, “desinteria” substituindo o certo disenteria, e por aí vai.

Comece a observar as falas das pessoas. E isso não tem nada a ver com o fato de ser mais ou menos letrada. Essas confusões se dão na cabeça de qualquer um. É preciso, no entanto, um pouco mais de atenção na hora em que estiver falando. E, na dúvida, não hesitar: recorra ao velho Aurélio que, com ele, não tem erro.

Fleal
Enviado por Fleal em 02/06/2020
Código do texto: T6966001
Classificação de conteúdo: seguro