A Cadeirante

Meio-Dia. Desço as escadas e vou em direção ao refeitório. Na fila, uma jovem cadeirante está a minha frente. Ela se serve com muita dificuldade. Arroz, feijão, purê e carne assada compõem seu prato. Eu a ajudo a se ajeitar na mesa e sirvo meu prato. Resolvo me sentar ao seu lado para conhecê-la melhor. É a nova estagiária da empresa. Seu nome é Sarah. Ela começa a me contar sobre sua vida. Aos 26 anos, é cadeirante há seis anos. Seu padrasto era muito violento. Um dia, ela o surpreendeu batendo em sua mãe. Ao defendê-la, foi baleada na coluna e nunca mais andou. Os cabelos louros de Sarah lhe conferem um semblante angelical. O tempo vai passando e um dia, não vejo a garota pelos corredores. Me lembro que ela havia me dado o número de seu celular. Uma voz diferente atende:

"-Alô!"

"-Sarah; tudo bem?"

"-Sou a mãe dela. Esse telefone é meu agora!"

"- Boa noite,senhora! Posso falar com sua filha?"

Ouço a mulher chorando, me contar uma bomba:

"-Desculpe; mas uma desgraça aconteceu: Fomos assaltadas esta noite e minha filha foi violentada. Cheguei a levá-lá ao hospital, mas ela não resistiu."

Sarah estava morta. Uma semana apenas que a havia conhecido, tudo acabou.

Quando vejo alguém na cadeira de rodas,tenho a impressão de ver a imagem de Sarah. Sei que ela não mais está entre nós; Mas seu sorriso está vivo na minha lembrança.

Um sorriso cativante que queria desenhá-lo. Gostaria que assim fosse minha próxima crônica. Pura como esse sorriso.

gordilho de betim
Enviado por gordilho de betim em 05/06/2020
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