Dona Etelvina

Dona Etelvina era uma senhorinha simpática, daquelas que a comunidade inteira reconhecia e ia procurar para uma palavra amiga, uma reza ou uma prosa sem um assunto definido.
Quando a gente chegava no portão da casa dela, era comum encontrá-la ali, no seu pequeno jardim, conversando com uma planta, enquanto mudava um vaso de lugar:
"- Minha fía, essa plantinha aqui tava triste ali, pus ela no sol, e olha como ela tá? Tá bunita, não tá? Mas o sol agora tá forte, vou por na sombra um cadinho."
Ela entendia de plantas e entendia de gente também.
"- E ocê? Como é que ocê tá mia fía? Tá precisando de uma reza ou de uma prosa?
Vem pra dentro, vou passá um café procê..."
E assim o visitante ia abrindo seu coração e Dona Etelvina ia derramando seu bálsamo com seus olhinhos miúdos, que sabiam muito, inclusive prestar atenção em quem precisava de ouvidos.
Ela acolhia a quem chegava, ouvia e aconselhava, rezava com a mão na cabeça do visitante e servia-lhe um café fraco, mas muito adoçado, que era como um elixir para as mazelas de toda gente.
Hoje em dia não há mais a velha casinha, circundada de plantinhas que cresciam entre o piso de cimento fraturado e nas muitas latas velhas penduradas pelos muros. Não há mais os vasinhos que ela cuidava com tanto carinho, nem sua reza, nem seu café adocicado e ralo, nem tampouco seus sábios olhinhos miúdos.

Cláudia Machado

Nota: Qualquer semelhança é mera coincidência.
Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 06/06/2020
Reeditado em 06/06/2020
Código do texto: T6969688
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