Assertividade

São muitas as palavras em nossa língua cujos significados nem sempre são muito observados. Soam esquisitas, para dizer o mínimo. Assertividade é uma dessas. Não é raro ouvir de alguém, especialmente quando se busca uma ajuda especializada para tratar de problemas de relacionamento interpessoal, que se deve ser assertivo.

Fui ao Aurélio em busca de entendimento. O dicionarista fala em “asserção, afirmação categórica, em que o locutor declara algo, positivo ou negativo, do qual assume integralmente a validade”. E aí, para exemplificar, lembrei de um comercial que vi na televisão. O que estava sendo vendido não recordo, e isso aqui é o que menos importa. O que ficou mesmo foi a força da mensagem. Tratava-se de um casal de namorados ao telefone. Ao término da conversa aquele clássico final de ligação, que é comum em papo de apaixonados em que um fica dizendo para ou outro, “desliga você”, “não, desliga você”. Dá a entender que ele tenha pedido primeiro para ela desligar o telefone (isso a propaganda não mostra, fica subentendido). O lado mostrado foi ela toda sorridente dizendo, “não, desliga você!”. E o que se vê em seguida é ele, sem a menor cerimônia, mas delicadamente, simplesmente desligando o telefone. A aparência alegre da moça de segundos atrás deu lugar a uma cara fechada, de desapontamento, e à pronúncia de uma palavra que diz tudo: “grosso!”. Ou seja: do amor ao ódio em fração de segundos.

Neste caso, sem que dissesse uma única palavra, apenas com o seu gesto, o rapaz mostrou-se assertivo, ou seja, foi categórico, positivo. Atendeu à solicitação da namorada, em algo que realmente deveria ser feito, mas que a expectativa dela era que aquele enredo se desenrolasse por mais alguns “desliga você”.

A dificuldade que as pessoas sentem para lidar com a assertividade é a mesma que têm para dizer não. Dão uma volta nos argumentos, distanciam-se dos fatos e ao final não fica claro o que se quer dizer. Resultado disso: problemas no relacionamento.

Quanto mais assertivos formos mais verdadeiras serão as nossas relações com as pessoas. O problema da assertividade é que há um limite tênue entre o que é assertivo e o que é grosseria. E é aí que devemos cuidar para diferenciar bem uma coisa da outra. Veja bem. Eu posso solicitar algo a uma pessoa e ela pode simplesmente me dar um não. Que tanto pode ser um não grosseiro, sem explicação, como pode ser um não acompanhado de uma breve informação dessa negativa. E nesses casos a medida é a seguinte: a pessoa que solicitou sairá da conversa pensando no que ela pediu, e não conseguiu, ou na forma como a resposta foi dada? Caindo na segunda, certamente quem deu a resposta não foi assertivo.

Sei que há alguns momentos em que lidar com a assertividade não é tão simples assim. Basta lembrar das conversas de pais com filhos adolescentes. Por mais assertivos que sejam, nem sempre essas conversas têm um bom termo. Mas elas são necessárias e têm que acontecer. Mesmo que o entendimento delas, pelos filhos, só venha muito tempo depois, talvez na idade adulta. Mas aí já é hora de ser assertivo com os seus próprios filhos.

Fleal
Enviado por Fleal em 16/06/2020
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