Crônicas e cronistas

Gosto muito de ler e escrever e uma coisa puxa a outra. Ao conversar com alguém que verbaliza ter dificuldades em escrever, pode perguntar sobre o seu hábito de leitura. Sem gostar de ler é muito difícil, não apenas gostar de escrever, mas escrever bem.

Sou daqueles que leio de tudo. Às vezes nem é uma leitura que me atraia tanto, mas o faço para estar um pouco “sintonizado”, por exemplo, com o que os filhos – em outras épocas – e agora os netos, estão ligados. Foi assim nos tempos de Harry Potter, lá atrás, com os rebentos, e mais recentemente o Diário de um Banana, que tanto chama a atenção dos meus netos de oito e nove anos. Como sou um dos principais fornecedores de livros para eles, pelo menos me interesso em saber o que estou incentivando.

Um dos meus gêneros literários preferidos é a crônica. Encantei-me – e ainda curto muito – com as crônicas de Drummond, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Fernando Sabino e outros não tão cotados, mas de grande importância na escrita. Ultimamente tenho me deliciado com Ruy Castro, quatro vezes na semana, em sua coluna na Folha de São Paulo. Sou seu leitor desde muito antes dessa sua fase mais ativa de cronista. O primeiro livro dele que caiu em minhas mãos, foi adquirido em um Sebo, em Curitiba, em 1999. Lá eu encontrei “Saudades do século 20”, que é de 1994. À época ele já havia escrito O Anjo Pornográfico e Chega de Saudades, que foram leituras posteriores. Foi nesse livro que fiquei conhecendo um pouco mais sobre Billie Holiday, Fred Astaire, Doris Day, Mae West, Frank Sinatra, entre outros personagens que encantaram o século 20. Essa é uma das obras que me recuso a emprestar (aliás, sou assim, ciumento, com todas as outras). Esse sentimento, que acho que não é só meu, ficou bem claro quando vi um post no Face, de uma amiga recente, conquistada nas redes sociais, que dizia: “Só é amor quando você empresta o livro preferido”. Tem que ser mesmo, muito amor... E, como se dizia no século 20, com os quatro pneus arriados. Ele está equiparado ao “Não perca o seu Latim” de Paulo Rónai, outra preciosidade que tenho, e escondo.

O interessante é que o tenha encontrado num sebo, um dos passeios da predileção de Ruy Castro. E que é mesmo um prazer, prazeroso, e não apenas aquele que é extraído “de qualquer lugar a que ainda consiga ir” que é o que acaba acontecendo com os que estão na “melhor idade”, segundo o próprio. Daí pra frente, tudo o que surgiu da sua lavra passou também pelas minhas retinas.

Num dos seus recentes livros (Morrer de Prazer – Crônicas da vida por um fio) ele traz um apanhado das crônicas escritas desde 2007 na Folha de São Paulo, muitas das quais eu já conhecia. Foi, portanto, um reencontro com relíquias, como a excepcional definição de “melhor idade” (assim mesmo, entre aspas) que eu já vi: “algo entre os 60 anos e a morte”. Mas não para por aí. Por lá tem muito mais coisas interessantes. “É só olhar, depois sorrir, depois gostar...”

Fleal
Enviado por Fleal em 30/06/2020
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