Vocês perceberam a gravidade da situação?

Pessoal, quando um governador faz um apelo público emocionado para que as pessoas fiquem em casa pelos próximos 15 dias e, na mesma semana, surge a notícia de que uma cidade como Canoas, com 98% de leitos ocupados, está sem remédio para intubar pacientes com covid-19, isso significa que a situação da pandemia no Rio Grande do Sul caminha rápido para um quadro de extrema gravidade, para se dizer o mínimo.

Vocês conseguem perceber isso?
O RS está com ocupação de leitos na casa dos 70% e o problema já vinha se agravando desde o final de junho em Porto Alegre, conforme a grande imprensa noticiou. E isso tudo quando agora sabemos, pela última pesquisa UFPel/GovRS, que temos somente meio por cento da população gaúcha contaminada pelo vírus. Leitos próximos do limite de ocupação, insumos médicos começando a faltar no mercado e menos de 1% de contaminados ainda. Isso já é o início do colapso parcial do sistema de Saúde, o que deve ser revertido a qualquer custo.

Ou seja, mesmo com leitos de UTI disponíveis e respiradores vagos, em Canoas não há, no momento, como receber novos pacientes. Se o espalhamento do vírus crescer muito e tal problema ocorrer em outros locais, isso significa que a taxa real de letalidade verificada pela pesquisa, de 1.1%, pode dobrar. O doutor em Microbiologia Átila Iamarino já havia revelado em maio estudos que mostravam essa taxa variável no Brasil, entre 0.8% e 1.2%, conforme a região, e acentuava: numa situação de colapso do sistema de Saúde, essa taxa fatalmente dobraria. Nós, aqui no Sul, por termos uma população idosa grande, estamos já próximos do índice mais alto de letalidade. E o agravamento se dá porque inclusive pessoas que em potencial seriam salvas, os acometidos mais jovens, por exemplo, sem respiradores ou sem remédios para os intubar, podem não resistir aos efeitos graves da doença. Sem falar das outras enfermidades e ocorrências hospitalares que serão afetadas por um sistema colapsado.

O estudo da UFPel, ante essa realidade, traz um dado ainda mais preocupante para o momento: a população gaúcha está circulando mais! Na primeira pesquisa, em abril, 21% das pessoas estavam sempre em casa e 20% saíam diariamente. Nessa quinta fase, foi verificado que 32% saem diariamente e 12% permanecem em casa. A conclusão é óbvia: a população está relaxando o isolamento social e o espalhamento está aumentando. Isso não pode continuar! Quem sai de casa sem motivo de extrema necessidade está contribuindo para o crescimento da covid-19, que já vitimou 600 pessoas no Estado.

O doutor em Epidemiologia Wanderson Oliveira, ex-secretário de Vigilância Sanitária na gestão de Mandetta no Ministério da Saúde, falou recentemente que o Sul do Brasil é que revela se uma epidemia ou pandemia foi grave ou não no país e que estamos agora em nosso período sazonal de circulação de vírus respiratórios. Logo, os ventos sopram contra nós, gaúchos. Entretanto, temos como enfrentar esse problema, seguindo o apelo do governador Eduardo Leite. O vírus não possui pernas e tampouco asas, necessita da circulação humana para se espalhar. Como não há vacina ou tratamento eficaz, apenas paliativo, o único jeito é ficar em casa. Só sai para a rua quem estiver a serviço ou por imperiosa necessidade, tomando todos os cuidados: máscara, gel, distanciamento social, observância dos protocolos de higiene ao chegar em casa com roupas, utensílios e produtos.

As bandeiras, de vermelhas em metade do Estado (mais de 73% da população), podem ficar pretas no Rio Grande do Sul. Vamos atender ao governador e ajudar a salvar vidas.

Não podemos deixar a covid-19 tomar conta do Estado, da região e de nossas cidades, ceifando vidas preciosas!

Fiquem em casa, fiquem com Deus.



Crônica publicada no site do jornal Portal de Notíciashttps://www.portaldenoticias.com.br/colunista/53/cronicas-artigos-joao-adolfo-guerreiro/