ATRIZ ANTÔNIA MARZULLO 9

A CENA TEATRAL

A CENA TEATRAL

O crítico teatral Sérgio Peixoto, da revista A CENA, ano 24º, nº 39, de 26 de setembro de 1944, comenta, na página Cena Teatral, a peça “O casca grossa”, da Companhia Delorges Caminha:

“A cena teatral

A pequena tragédia de um ‘noveau riche’.

‘O casca grossa’, seu fundo moral e cômico e a grande interpretação de Delorges Caminha.

‘O casca grossa’, a comédia de José Wanderley e Daniel Rocha, que está sendo representada no rival, pela Cia. Delorges Caminha, nos mostra, no seu entrecho, interessante e agitado, a pequena tragédia de um cidadão português, simples e ingênuo, que, depois de adquirir fortuna, compra a comenda de uma ordem qualquer, e, credenciado com o título de Comendador, delibera ingressar na sociedade , levando, de contrapeso, uma irmã, para lá de ‘balzaquiana’, solteirona, que pretende arranjar um casamento. Mas em torno dessa ‘pequena tragédia’, que serve de pretexto para que o público se escangalhe de rir, desenrola-se um romance de amor, dando ao trabalho de Wanderley e Rocha, além de forte sabor cômico, um fundo sentimental que forma um contraste muito interessante.

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A peça, apesar de sua principal finalidade, que é a de fazer rir, o que consegue facilmente e em alta dose, é limpa. Os autores sabem fazer o público rir sem lançar mão de recursos condenáveis, como sejam as situações pornográficas ou frases de duplo sentido tão comuns em trabalhos desse gênero. Há até um fundo moral em ‘O casca grossa’, digno de uma apreciação mais apurada.

Lá, vemos os filhos respeitarem os pais, a noiva estimar e se sacrificar pelo noivo e marido e mulher viverem em harmonia. Nada de cenas de adultério ou de amores baratos como é comum nas peças do chamado teatro alegre. A comicidade é provocada por processos honestos e a peça pode ser assistida com agrado pelos espectadores de qualquer classe ou camada social.

Desejamos, nesta nota, destacar a atuação de Delorges Caminha no ‘Comendador’. Compondo um tipo de lusitano aclimatado no Brasil, o talentoso ator empresário do Rival dá-nos uma criação magnífica. O que ele faz, com naturalidade, presença de espírito e demonstração de recursos admiráveis, serve para provar mais uma vez que Delorges possui um grande talento cômico e uma veia humorística inesgotável.

No ‘clichê’ que ilustra esta nota, vemos o novo rico, o ilustre Comendador da Ordem de São Gregório e sua digna irmã, numa pose de fotógrafo da Rua Larga. Antônia Marzullo também, nesta peça, notabiliza-se por uma grande criação.

‘O casca grossa’, segundo nos informou aquele artista, deve permanecer muito tempo no cartaz, pois é grande o público que, todas as noites, aflui aquele teatro para passar duas horas agradáveis, entregue à mais completa hilaridade.

Entretanto, apesar do sucesso dessa peça, já se anuncia para breve, quando for oportuno, a retirada de ‘O casca grossa’ de cena, uma outra peça onde aquele ator tem também uma criação notável. Trata-se de ‘O cidadão zero’, escrita de parceria com Gastão Pereira da Silva”.

Apesar do texto elogioso do crítico Sérgio Peixoto, a revista classifica a peça ‘O casca grossa’ como “regular”, comparando-a com outros espetáculos em cartaz.

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Fragmento do livro “Antônia Marzullo, uma atriz que falava com os olhos”, de Nelson Marzullo Tangerini.

Pesquisa: www.memoria.bn.br

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 04/07/2020
Código do texto: T6995717
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