A cidade cresce

Passa ano e vem ano. A cidade cresce. Aumenta o número de bairros e, consequentemente, a frota de ônibus circulares pelas ruas “preto-piche”. Crescem as avenidas, a quantidade de lojas, os semáforos. “Shoppings centers” estão na ordem do dia. Uma pena para os tradicionais cinemas de rua! Mas não para por aí. Logo surgem os prédios e os arranha-céus. E tudo passa a ser pedra sob pedra. Só não crescem as árvores, que são retiradas para passar a civilização.

Civilização! Quem foi o traste que não podia inventar coisa pior?! Se civilização é o progresso, o progresso tem seu custo, dizem eles. O fato, creio eu, é que seja muito difícil viver em civilizações. Mais fácil viver em cidade pequena. Sabemos de tudo e de todos. Mantemos tudo em seu devido lugar: a escola, as ruas, suas casas e pontes. Nada de prédios altos! Assim, não nos perdemos no caminho pra casa. Sabemos onde estamos e de onde viemos e temos algo a dizer que é nosso, apenas nosso. E de um dia pra noite tudo isso se perde. Os prédios escondem os morros, os faróis dos semáforos apagam o brilho do letreiro do matinê e, consequentemente, já não alcançamos a biblioteca pública que fica bem ao lado. As velhas livrarias dão lugar aos postos de farmácia. Essas biqueiras legalizadas que passam a existir pra vender remédio a todos que se intoxicam com a fumaça dos carros! As sedes de televisão arrebentam qualquer teatro ou casas de cultura. Mais um pouco e não vemos estrelas ao cair da noite, nem dormimos sossegados.

É isso que acontece quando deixamos tudo nas mãos dos magnatas. A cidade, de tão grande, de tão civilizada, já não pode ser pensada. Já não pode ser vivida. Tudo se torna cinza e nos perdemos em meio a um amontoado de desconhecidos, escondidos atrás das formas concretas e chatas dos muros e arranha-céus.

Por isso sou e sempre fui contra o cosmopolitismo. Tudo se degenera. Já não há identidade e toda a história se perde no meio da fumaça. O fato é que há muito desses lugares em vários lugares do mundo. Várias cidades diferentes que de diferente só têm mesmo o nome. Melhor era quando nos preocupávamos com a indiferença entre os indivíduos. Hoje nos preocupamos com a indiferença entre as multidões. Bem-vindos à Cosmópolis mundial!