Alice todos os dias

A chuva lava as ruas.

Observo-a pela janela, entre uns goles de xingu e o sono.

Carregará consigo restos de lixo, deitará aos esgotos uma micelanea de fluidos e dejetos, humanos ou não, proporcionando festa às baratas e aos ratos, os mesmos que passeiam alheios aos nossos olhares ( fossemos gatos...), pelas ruas de Iracema.

Uma descrição da peste negra - imagem de terror recorrente -fruto da ultima leitura da noite vem à mente.

O medo das pestes, o mundo das torturas, as alucinações que senti nas catacumbas de Paris.

Medo.

Como serão os subterrâneos de minha mente?

Labirínticos, infindáveis, negros?

Que momento é esse, quando retorno ao gosto pelo gótico?

Continuo alinhando-me às descrições e aos sinais porque há um teatro subjetivo, um não sei quanto consciente, onde causas e consequencias se confundem.

Sei que há um script a ser seguido, palavras expressas, palavras impressas, o comando subliminar que proporciona sensações intensas mas diversão garantida, um trem-fantasma psicológico.

Alice todos os dias.

Anete Antunes
Enviado por Anete Antunes em 11/11/2005
Código do texto: T69992