A difícil arte da resiliência

A tarefa mais difícil é olhar para nós mesmos e tentar melhorar os pensamentos, sentimentos e ações que não cabem mais em nós...

Um dia fomos crianças, havia em nós a alegria da espontaneidade...

Uma confiança maior no mundo que nos cercava, embora também fizesse parte o medo do "bicho-papão" e dos demais seres criados pela imaginação de nossos pais... Outros medos, por exemplo, eram o medo do escuro, ou de alguns animais, como os cachorros ou vacas. Havia também alguma preocupação com relação ao amor de nossos pais... Mas ainda assim, tínhamos a espontaneidade!!

Mesmo sabendo da possibilidade de uma surra, a gente subia em árvores, passava por cercas de arame farpado, caía, ralava os joelhos e voltava para casa carregando sujeira ou maiores estragos em nossas roupas.

Passado o castigo, repetíamos as brincadeiras.

Existia sim uma certa confiança no amor dos pais. Uma preocupação em fazer as coisas certas, mas mais forte falava a espontaneidade da nossa inocência, a qual nos garantia que sim!! Eles iriam nos perdoar e continuar tendo amor por nós.

Alguns anos depois de tudo isso, é chegado o tempo da adolescência e fase adulta. Vamos amadurecendo e muito do que éramos vai deixando espaço para novas preocupações e medos.

Na infância a gente corria mais riscos...

Éramos mais espontâneos!

Éramos mais resilientes!

Depois do vendaval, vinha a calmaria e a gente voltava a ser corajoso, mesmo sabendo que teríamos que enfrentar novamente o desapontamento dos pais...

A resiliência nos fazia voltar a ser quem éramos, modificando aquelas partes das brincadeiras, as quais haviam causado algum estrago em nós (ou em nossas roupas)...

Certa vez, num daqueles momentos de brincadeiras/aprendizados, andando de bicicleta, resolvi que seria interessante fazer ziguezague, de um lado ao outro da avenida próxima de nossa casa... Era domingo e nenhum carro passava por ali... A rua estava livre para mim. Isso resultou em uma queda, uma calça rasgada, uma marca que carrego até hoje no joelho e uma pequena omissão dos fatos... Essa parte do ziguezague não fez parte do relato. Minha mãe nunca soube.

Mas a resiliência, bendita, me devolveu a espontaneidade, trazendo a coragem para andar novamente de bicicleta após alguns dias. Com os devidos cuidados (sem "loqueios")! Afinal, resiliência é isso! Voltei ao estado anterior de espírito e levei junto o aprendizado e a criatividade para manter a diversão.

A fase adulta é aquela em que a gente faz também uso da resiliência, mas muito da espontaneidade já se perdeu... Quanto mais isso acontecer, mais estamos negando a nossa capacidade de viver melhor.

Temos, agora, muitas outras pessoas com as quais queremos manter boas relações, desde o cônjuge ou companheiro (a) e familiares deste, até os amigos e familiares dos amigos...

Pudéssemos olhar mais para nós mesmos...

Quando éramos crianças, a gente sabia que podia ser a gente... Sabíamos que não precisávamos desistir de alguma coisa, por termos cometido algum erro, nos dávamos mais chances de mudar quando percebíamos que algum tipo de ação não servia mais para nós.

A espontaneidade nos fazia agir assim.

Na fase adulta, olhamos para tanta gente... queremos mudar o comportamento dos outros e demoramos muito a nos darmos conta: "a tarefa mais difícil é olhar para nós mesmos e tentar melhorar os pensamentos, sentimentos e ações que não cabem mais em nós..."

Assim fazíamos quando éramos crianças, quando éramos espontâneos... Quando, inconscientemente, percebíamos a importância da resiliência.

É nesse olhar crítico que nos daremos conta: andar de bicicleta em ziguezague não é muito seguro. Mas há formas seguras de andar. Há formas seguras de sermos nós!! Há formas seguras de seguir em frente, aceitando que os erros nos dão a oportunidade de testar a resiliência e a espontaneidade que vivem em nós.

Claudia RS
Enviado por Claudia RS em 09/07/2020
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