Quelé do Pajeú, cangaceiro por ocasião e necessidade





O último filme brasileiro que acabo de assistir é “Quelé do Pajeú”, não é nenhum lançamento, é de 1969, com a direção de Anselmo Duarte, morto em 2009. Como protagonista está Tarcísio Meira (ainda vivo e atuante), aquele da Globo, aos 34 anos na época, jovem e bem nordestino no papel. Gosto de conhecer melhor os diretores e atores dos filmes que assisto. Nem sempre fui assim. Mas é importante saber que quem está atuado não foi colocado ali por acaso ou de paraquedas (hoje nem sempre podemos afirmar isso).

O filme mostra a vida no interior nordestino, especificamente a região do sertão do Pajeú em Penambuco. Região de cangaceiros, além de homens destemidos e valentes. Não vou entrar em detalhes do filme, uma vez que essa não é a minha intenção neste texto. Mas, seria impossível deixar de analisar o contexto histórico de um Brasil dos anos 30 (e não reconhecer os dias de hoje).

A falta de um Estado presente e as constates injustiças praticadas pelos agentes públicos e seus agregados, como os famosos coronéis, respondem alguns dos questionamentos que hoje fazemos sobre aquele período. Mortes por encomendas, crimes de honra, pistolagem e a submissão dos mais pobre ao poder econômico ( naõ mudoiu muita coisa hoje) está na raiz dos problemas históricos.

O que faz o Quelé do Pajeú entrar para o bando de Lampião? O estupro da irmã. Isso é o estopim. O desejo de "lavar a honra", empreitada essa que o Estado não levaria a cabo, pois quem era esse Quelemente (acredito que seja uma variação de Clemente) para o Estado de importar com ele? Creio que seja possível atualizar essa história para o século XXI. E o que falar de Virgulino Ferreira da Silva (era só mais um Silva que a estrela não brilha) Lampião? Entrou para o cangaço devido a morte de seu pai pela volante. Falta-me pesquisar se tiveram outros fatores, mas no filme Lampião o rei do Cangaço (1964), a história é contada assim.

Creio que existe uma ligação do passado com o presente. Não nego a evolução e as conquistas dos direitos civis, dos direitos sociais, uma maior atenção aos menos favorecidos da nossa sociedade. Mas, há elementos que perduram. A tortura da volante é vista numa nova roupagem, a perseguição dos pequenos pelos grandes para tomar suas terras (o Nordeste e Norte sabem bem o que é isso), e sem contar a exploração do poder econômico (presente no Brasil todo). Basta andar por qualquer cidade do nosso sertão nordestino que veremos, ora em maior ora em menor intensidade, o Brasil de 1930. E, uso o Sertão nordestino apenas como exemplo didático. Mesmo não conhecendo a realidade do restante do país, creio que não destôa da qual estou falando.

É um filme seco. Quando digo seco estou me referindo a forma como o tema é abordado, sem maquilagem (maquiagem). Tem um romance, mas é apenas para quebrar um pouco a frieza do tema. No mais é um grande filme.
George Itaporanga
Enviado por George Itaporanga em 10/07/2020
Reeditado em 10/07/2020
Código do texto: T7001771
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