TATU II - A VIDA DE UM LUTADOR

Antônio Tavares de Azevedo Filho, foi um jovem gaúcho, natural de Pelotas – RS, nascido no ano de 1925, lutador de "Catch-as-Catch-Can", atividade esportiva que teve seu auge entre os anos 1940 e 1960 no Brasil e que, também, ficou conhecida como “Luta Livre”, tendo sida transformada em espetáculo teatral dos atletas arrastando centenas de pessoas para assistir junto aos ringues e, mais tarde, também, televisionado como Tele-Catch. Nos anos 60, entre muitos programas que foram patrocinados, havia em Porto Alegre nesse período o Ringue 12 Anzanelo, Ringue 12 Marinha Magazine, dentre outros, que prendiam um público fiel frente às televisões nas noites dos finais de semana. Um dos locais onde haviam as lutas, por comportar muitos assistentes, era no Antigo Centro de Educação Física e Desporto da Brigada Militar (CEFID-BM), mais conhecido como Ginásio da Brigada Miliar, que ficava situado nas esquinas da Avenida Ipiranga e Rua Silva Só, que foi demolido por severas avariado sofrido num temporal em Porto Alegre. Dos mediadores das lutas mais conhecido na época desses combates televisionados, foi Éldio Macedo um elegante arbitro negro, que se apresentava trajando sempre terno e gravata. Hoje, após adaptações e modernizações na sua maneira de realizar os combates corpo-a-corpo, esse tipo de luta está sendo conhecida pelo mundo como MMA, observadas as suas modificações e propostas das federações e confederações.

Antoninho, como era conhecido pelos parentes e amigos próximos, era filho de um construtor pelotense chamado Antônio Tavares de Azevedo que após ter ido mal nos seus negócios, transferiu-se com a sua família para Porto Alegre para tentar tocar a vida noutra atividade profissional. Naquela ocasião o menino Antoninho tinha entre 9 e 10 anos de idade e na sua adolescência já nutria simpatia pela luta esportiva. Por volta dos 17 anos de idade, passou a dedicar-se às lutas de Catch-as-Catch-Can, de forma mais efetiva, tendo ficado conhecido nos ringues como "TATU II", pois naquela época já existia um lutador de nome Euclydes Hatem(1), no estado do Rio de Janeiro, conhecido no mundo esportivo como o “Tatu”.

No decorrer da sua carreira Antoninho conheceu a sua amada Licéia Frota, de 14 nos de idade. Ambos se conheceram quando o lutador participava de uma luta no Teatro de Emergência, próximo ou junto ao Cine Castelo, que ficava situado no Bairro Azenha em Porto Alegre. Licéia era filha do 1º Tenente da Brigada Militar João Orientil Falcão da Frota e de Iris Rodrigues da Costa.

De acordo com relatos de suas filhas, Antoninho viajava pelo interior do Estado e pelo País, para participar dos combates de Catch, juntamente com nomes também consagrados dos ringues gaúcho e nacional, tais como Barba Roxa, Verdugo, Máscara Negra, dentre outros.

No ano de 1944 disputou o campeonato brasileiro no estado do Rio de Janeiro, onde sagrou-se Vice-campeão. Um fato pitoresco sobre a sua ida para o Rio de Janeiro é que, por ter viajado de navio sentiu muitas náuseas na viagem, tendo, quando lá chegado, perdido peso o que comprometeria a sua participação para disputar os confrontos previstos para chegar à final. Seguindo orientações de colegas passou a alimentar-se somente de bananas para ganhar peso rapidamente, que acabou o deixando enfastiado, chegando a repugnar só de pensar em comer bananas. Mas o tratamento deu resultado e conseguiu em pouco tempo retornar ao seu peso novamente, tendo, naquele momento, participado com igualdade de condições dos demais atletas no campeonato. Outro fato interessante, mas em outra ocasião, que causou desavença no ringue, foi quando enfrentou num combate o lutador Máscara Negra. Após vencê-lo, TATU II retirou a máscara do seu adversário, fato que enfureceu Máscara Negra. O atleta ficou furioso com TATU II, pela descoberta de sua identidade ainda em cima do ringue, o que significava a sua desmoralização frente ao público.

Após o seu retorno para Porto Alegre, em 1944, depois de ter se consagrado vice-campeão brasileiro no Rio de Janeiro, continuou lutando e aos 19 anos de idade casou-se, em 12 de outubro de 1945 com Licéia Frota (Neneca).

O interessante é que a amada de Antoninho era menor de idade, e por sua filha ser menor de idade, e ainda não ter sido emancipada, a mãe de Neneca, a Dona Íris, que fazia gosto no enlace dos dois jovens, conseguiu atestado de um médico conhecido, que se chamava Dr. Darci, dando conta que Licéia tinha 18 anos antes da data do casamento, e assim, a jovem Neneca conseguiu casar-se com seu ídolo, o lutador TATU II.

A vida não foi fácil para Antoninho, o lutador TATU II, devido a paixão pela atividade como atleta de lutas, e porque precisava dedicar-se muito aos treinamentos e aos rounds nos ringues de Catch. Devido aos parcos caches que recebia pelas participações nos confrontos, e os muitos hematomas pelo corpo ao final de cada luta. Precisando realizar várias apresentações no mês, para manter o sustento da família, faziam com que Licéia, constantemente, solicitava para que o marido abandonasse aquela paixão e mudasse o rumo de suas vidas com outra atividade profissional.

Depois de algum tempo e muitas lutas, atendendo as súplicas de sua amada esposa, Antoninho abandonou os ringues para dedicar-se aos misteres profissionais com uma marmoraria que havia estabelecido na Avenida Oscar Pereira, próximo da Praça da Saudade, no bairro Azenha.

Antoninho teve com Licéia cinco filhos (Maria Helena, Maria Dinasara, Otávio Ubirajara, Jorge Antônio, e Alexandre). Muito brincalhão e espirituoso, tinha um coração de menino e a sua casa era um ambiente muito fraterno, todos falavam alto, sempre alegres e com muita discussão, abraços e declarações de bem querer aos de casa e aos parentes e amigos que os rodeavam. Eram tempos de muita alegria e casa cheia, na família Azevedo, moradora no Bairro Glória, em Porto Alegre (2).

O nosso lutador faleceu muito jovem por complicações decorrentes de diabetes em 26 de abril de 1972, aos 47 anos de idade, tendo deixado uma família muito amorosa, alegre e querida por todos os parentes e amigos que o conheceu e que com ele conviveu, nos seus áureos tempos de glórias dos grandes espetáculos das lutas de Catch e, também, nos momentos de sofrimentos pelos graves problemas de saúde que enfrentou no final da sua vida. TATU II encerrou a sua jornada de vida com a bravura de um verdadeiro lutador, que foi festejado e consagrado no mundo esportivo sul-riograndense e brasileiro nos idos dos anos 40. Hoje, temos a certeza que pela sua envergadura e espírito de combate, e suas festejadas vitórias, está sentado no seu lugar de direito, no panteão sagrado dos grandes atletas gaúchos e brasileiros de Catch-as-Catch-Can que brilham em nosso firmamento.

(1) Euclydes Hatem, o Mestre Tatu - Rio de Janeiro, 16 de Setembro de 1914; Rio de Janeiro, 26 de Setembro de 1984 - foi um lutador brasileiro muito conhecido durante as décadas de 1930 a 1950 e um dos personagens fundamentais para o desenvolvimento do que veio a ser conhecido como Luta Livre Brasileira, um estilo totalmente adaptado e desenvolvido no Brasil. Disponível em: wikipedia.org/wiki/Euclydes_Hatem. Acesso em: 11 Jun 2020.

(2) Colaboração de: Maria Helena de Azevedo Bessi e Dinasara Frota Azevedo. Em Jun 2020.

Camponez Frota